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7 de Outubro devia ser uma data sagrada para os assuenses

Dia em que, numa cidade mineira ilustre por seus colégios e escola de agronomia, referencial de qualidade por gerações de brasileiros, nascia a escritora Maria Eugênia Maceira Montenegro, vista aqui em um memorial vivo, de maneira inédita, capturadas das páginas de Paraísos de papel [inédito].

*Franklin Jorge, Editor.

Assu é ingrato com os seus maiores. Historicamente, em diferentes eras, mostrou-se omissa em gratificar a herança cultural da terra legada por alguns, como a escritora mineiro-potiguar que chamávamos por Dona Gena.

Velha amiga do poeta João Lins Caldas, até sua morte em 1967, aos 78 anos, no quintal de uma casinha de porta e janela, na antiga Rua das Flores, depois, Prefeito Manuel Montenegro., que subsiste aos caprichos e cochilos das autoridades. Era, para todos, um Vate, um visionário que poucos entendiam e muitos admiravam.

Assu a esqueceu, Dona Gena. Como esqueceu Sinhazinha Wanderley e a crônica de Meus Amores [em francês]. Por muitos anos seu refúgio rural nos invernos e verões, primaveras e outonos que ela percebia de suas mirações da terra assuense.

Conheceram-se, a jovem e bela recém-casada e o poeta já maduro na Fazenda Picada, onde, com Nelson, seu marido, se radicou perto da lagoa.

Cheguei a colaborar com Tradições do Vale do Açu, ilustrando capítulos seus e cedendo-lhe minhas notas sobre as Incelenças.

Esqueceu Jacks Cosme, artista plástico, da conhecida Família Cosme, nascido em Macau. Com quem conversava sobre o Cinema de Fellini, de Lelouch, de Farenheit, 1984, Laranja mecânica. Trazia-nos as novidades culturais do Recife.

Às vezes, na praça Getúlio Vargas, em frente a casa de Dona Gena, víamos o sol nascer.

Ignorou completamente Myriam Coeli, Myriam Coeli de Araújo Dantas da Silveira.

Esquecei a profa. Maria da Glória Pessoa, Dona Glorinha, que faltando um mês para receber o diploma em Farmácia, o noivo deu-lhe um ultimatum: ou ele ou o título acadêmico. Não queria fazer-se conhecido como “o marido da Doutora”…

Ignora a contribuição de Chisquito. A de um pesquisador que pensou sobre suas pesquisas, Manoel Rodrigues de Melo, de todos o único a receber consagração pública e reconhecimento oficial. Está para o RN o mesmo que Gilberto Freyre para Pernambuco. Esquecido, enterrado e o paradeiro de suas cinzas desconhecido, pela própria Academia de Letras a que deu alma.

Ignora a crônica do teatro local, suas figuras excêntricas como o Bispo D. Xandu, Xanduzinho, depois um dos Patriarcas da Igreja Brasileira. Sua saga de mendicante a percorrer o Estado do Ceará em busca de doações, sua prisão arbitraria a pedido do Pároco de [x]. Sua volta, deprimidíssimo. O Delegado confiscara-lhe tudo e repassou ao padre; a horas mortas,  no meio da estrada, parou o ônibus da linha Mossoró-Natal, sem nenhuma consideração jogou-o lá dentro, após cochichar com o motorista, observou o Bispo humilhado.

Ignorou Padre Ibiapina, como deixou desaparecer a porta única, chamada de Roda de Expostos, onde as mães aflitivas e desesperadas entregavam seus filhos para estudar e aprender um oficio.

Deixou que desaparecessem seus chafarizes.

Permitiu que seus casarões, dum passado colonial e dos tempos de El-Rey, fossem mutilados, desfigurados ou demolidos.

O Parque Infantil Palmério Filho virou um retrato em algum álbum esquecido.