*José Vanilson Julião
O sócio estrangeiro da Rádio Educadora, o empresário Huascar Purcell, tem o nome do imperador Huayna Capac. Após a morte deste assume o filho Huascar, que luta contra o meio-irmão Atahualpa pelo trono. A guerra (1529/32) deixa o Império Inca vulnerável e facilita a conquista espanhola.
Mas a história dele no país começa com os irmãos ingleses Alfred (1834) e Charles Booth (1840), descendentes de negociantes de cereais desde o século XVIII. Com 16 anos Alfred trabalha como aprendiz no escritório Lamport e Holt. Três anos mais tarde Charles entra na empresa. Está plantada a raiz que faria florescer uma nova empresa de comércio internacional e armadora de navios.
Aos 23 anos, Alfred embarcar para Nova Iorque, para trabalhar na Rathborne & Company (1857). Mais uma vez Charles o segue. Em 1863, com pequeno capital originário da herança paterna e linhas de crédito abertas pelas empresas onde haviam trabalhado, além do apoio de amigos e parentes, como Alfred e Philip Holt, os irmãos criam empresas de importação e exportação.
Os jovens se especializam no ramo de peles de carneiro e ovelha destinadas à importação nos Estados Unidos, para a fabricação local de botas, luvas, chapéus e capas de livros. A inauguração das atividades da Lamport & Holt para a América do Sul torna eles armadores, como os primos Alfred e Philip Holt. Em 1864 os irmãos entram na escoação do algodão do Ceará, Maranhão e Pará.
Com a construção de dois vapores (“Augustine” e o “Jerome”), em fevereiro/1865, a Booth Line estabelece as bases para crescimento contínuo até pelo menos a primeira década do século seguinte. O Augustine (15/2/1866), de 1.056 toneladas, zarpa de Liverpool com o capitão John Jackson para o Brasil. Com 571 toneladas de carvão como combustível e 57 toneladas de carga geral.
O inglês William Purcell é o primeiro gerente geral da “Booth Line” para as regiões Norte e Nordeste (1881). A empresa faz o transporte de cargas entre os portos de Liverpool (Inglaterra) e Iquitos (Peru) com escalas em Londres, Havre, Porto, Lisboa, Ilha da Madeira, Belém e Manaus.
William, Atahualpa, Bolívar, Huascar (filhos) e Jesuína Canovas Purcell (esposa) aparecem na lista dos 32 acionistas no balanço semestral da Companhia de Artefatos Metálicos publicado no jornal “A Constituição” (sábado, 23/1/1886) – “orgão do Partido Conservador” – com sede na Praça da Independência em Belém. Destes os maiores são William (11 papéis) é Alfred Booth Company (com dez).
Os demais: A. J. Henrique e Companhia, Albert A. Costa, Arthur Johnston, Bernardo Barbosa, Bernardo Ferreira de Oliveira, Bastos Araújo, Casanova e Irmão, Charles Morey, Charles Miller, E. A. de Castro Martins, E. Compton, Faria Pereira, Ferreira Danin, Francisco Brício da Costa, Gonçalves Sampaio, Henri Olivier, J. N. da Silva Matta, J. S. Ferreira Sobrinho, José Joaquim Barbosa, M. da Silva Corrêa Dias, Maria Tereza N. R. Ferreira, Paulo Mouraille, Pedro de Alcântara Garcia, W. Brambeer e Xairer Olivier. O documento assinado por José Gonçalves Sampaio e Júlio Borges Ferreira (31/12/1885), além do guarda-livros H. R. Rodrigues, revela transferências de ações do diretor William para Francisco B. Costa,
Após sair do Amazonas o irmão Bolívar Purcell surge como um dos fundadores do Rio Branco Futebol Clube (2/6/1914). A reunião acontece na Avenida Tristão Gonçalves 6. A indumentária seria camisas lilases e calções brancos.Um ano depois se transforma no alvinegro Ceará Sporting Club.
Fundadores: Gilberto Gurgel (presidente – 1914/20), Walter Jansen Barroso, Raimundo Justa (“Ninito”), Newton Rola, Aluísio Borges Mamede, Orlando Olsen, José Elias Romcy, Isaías Façanha de Andrade, Raimundo Padilha (“Mundico”), Rolando Emílio, Meton Pinto, Gotardo Morais, Artur de Albuquerque, Cicinato Costa, Carlos Calmon e Eurico Medeiros.
Em 1921/27 é dos diretores da Cruz Vermelha com filial instalada em Fortaleza (10/5/1918). O médico, históriador e vice-cônsul inglês, o barão Guilherme Chambly de Studart (Fortaleza, 5/1/1856 – 25/9/1938) é o presidente do Conselho Diretor. É décimo-segundo presidente do Ceará (1926/28). Aparece em nota de aniversário na coluna “No Lar e na Sociedade” (página dois) do jornal cearense A Razão (sexta-feira, 31/7/1936) como o gerente da Booth Line.
Os ingleses introduzem na capital amazonense no início do século XX o tênis, turfe, críquete e beisebol. Em horas vagas praticam o futebol na Praça Floriano Peixoto ou no bosque municipal. E fundam o Manáos Athletic (2/7/1913).
Com destaque para J. Cunningham, superintendente da Manáos Harbour, administradora do porto. A primeira notícia de Cunningham com a camisa azul-marinho (13/8/1911) contra o Brasil. Os dois primeiros gols (15/11/1912) no 6 a 2 também contra o Brasil. Foi capitão da equipe.
Na sequência de jogos contra o combinado amazonense. E dois gols no 4 a 2. A última partida, 7/12/1913, derrota para o Combinado Amazonense (3 a 2). O nome desaparece das escalações do título de 1914 (Professor e pesquisador Gaspar Vieira Neto).
No “Diário de Pernambuco” (sexta-feira, 9/5/1913) Huascar Purcell aparece em viagem de vapor “Maraú” procedente do Sul com escala Penedo (Alagoas). Depois em anúncio de “A Província” (sexta-feira, 16/1/1914) como representante de Alfred booth & Companhia para compra de mercadorias nos Estados Unidos e Europa, a dinheiro e direto dos fornecedores. O escritório do holandes Julius von Sohsten: Rua do Apolo, 22 (segundo andar), no Recife.
É representante de produtos de fábricas na Inglaterra. Estabelecido no segundo andar da Rua Alfredo Lisboa 533 (telefone 279) como depositário da J. C. White. E representa Pneumáticos e câmaras: Avenida Marques de Olinda 533 (segundo pavimento). Anúncio na imprensa indica estoque de cimento (“Atlas” e “White Brand”), óleos lubrificantes, folha de flandres, arame farpado, enxofre em canudos, cal de Bristol e correia de transmissão.
Nos anos 30 se encontra estabelecido na Rua Chile (Ribeira) como exportador de couros e peles, gerenciado por Deolindo Lima (pai de Nestor Lima), falecido em 1944. Sendo um dos passageiros costumeiros da Panair do Brasil. É assinante da Revista Potyguar (dezembro/1937). Após dois anos de fundação faz parte de delegação recifense presente na inauguração da sede do Banco do Povo na esquina da Tavares de Lira com a Duque de Caxias.
No Recife é representante do Nordeste do Banco de Crédito da Borracha, fundado com aporte financeiro dos Estados Unidos (Decreto-Lei 4.451 – 9/7/1942), ávido pelo produto durante a II Guerra e destinado a promover o plantio de seringueiras (Correio da Manhã – domingo, 30/3/1947).
1948: Estaria de mudança de Natal para Campina Grande para se livrar dos impostos e obter melhor competividade na cidade paraibana. 25/1/1950: Pelo porto do Recife exporta 5.960 quilos de pele de cabra e arrecada Cr$ 275.773,00 (15.004,03 dólares)
Com o fim do conflito passa a Banco de Crédito da Amazônia por decreto do presidente Eurico Gaspar Dutra (Lei 1.184 – 30/8/1950) e assinado pelo ministro da Fazenda Guilherme da Silveira. Origina em 1966 o Banco da Amazônia (BASA).
FONTES
A Crítica/AM
Almanaque Laemmert
A Constituição/PA
A Razão/CE
Fortaleza Nobre
Futebol Nacional
Instituto do Ceará (Ephemerides Cearenses – 1918)
A Ordem
A Província/PE
Cluny
Diário das Leis
Diário de Pernambuco
Diário Oficial da União
Jornal do Recife
Jornal Pequeno
Editora Universitária/UFRN
História do Futebol
Novo Milênio
Navios e Portos
Parentesco
Pesquisa Escolar
Portal IPHAN
IPatrimônio
Papo Cultura
Portal da História do Ceará
Site do Vozão
Vovopedia
H. John Instituto Durango Duarte
A Liverpool Merchant House: Being the History Alfred Booth e Company
Haroldo Moura – Ceará Alegria do Povo (Março/1996)
Miguel Angelo de Azevedo (Nirez) – Cronologia Ilustrada de Fortaleza – Roteiro para um turismo histórico e cultural (2005)