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80 anos da Rádio Educadora (I)

Colaborador de Navegos dá início à publicação de uma série de artigos que contam a História do Rádio em Natal, acrescentando detalhes e informações que escaparam a curiosidade de pesquisadores que o precederam.

*José Vanilson Julião

Em 1928 uma estação não comercial é instalada na sede da Diretoria Geral dos Telégrafos (“Cidade Nova”), atual bairro de Petrópolis (Zona Leste). Mas a história mesmo começa com as tentativas dos verdadeiros pioneiros esquecidos pelos pesquisadores.

Logo na edição de lançamento o jornal diário vespertino católico “A Ordem” (domingo, 14/7/1935) reporta sobre a “Rádio Sociedade do Rio Grande do Norte”. O eletricista Durval Gomes Barbosa, o mecânico Romão Jordão Lacerda e Pedro Machado (profissão não identificada) montam um pequeno aparelho de transmissão. Eles seriam empregados da companhia de melhoramentos do porto.

Na terça-feira retifica que a experiência se dá com aparelho argentino com modificações desde 18/6 na Rua Presidente Passos 546, sendo elaborados os estatutos e requerida ao Ministério da Viação licença para funcionamento a título precário por cinco anos. De acordo com o Decreto Federal 21.111 (1/3/1932).

Sábado 20: – Curiosos acorrem nos dias úteis (20 às 23 horas) com transmissões às 16 e 17h (domingo). Compreendemos a importância do rádio e em outra página nos referimos a Rádio Sociedade Vera Cruz do Rio (prefixo PRE2) – antiga “Cajuti” (efetivamente inaugurada em 15/8/1937 pelos católicos).

Sete edições depois a iniciativa paralela da “Rádio Clube de Natal” marca reunião (domingo 28/7) no Teatro Carlos Gomes. Na terça-feira informa que no “foyer” (salão) do teatro a “Voz Potiguar” escolhe a diretoria (modificada com a exclusão do médico Januário Cicco como vice-presidente, o qual aparecerá como acionista fundador da futura e definitiva emissora).

Assembleia geral (3/8) elege presidente Renato dos Santos Jacinto, José de Barros Cavalcanti (vice), José Rafael Siqueira (primeiro secretário), Adalberto Marques (segundo), José Serra (tesoureiro), dentista José Carlos Leite (vice) – pai do general J. C. L. Filho e do coronel Renato Leite –, advogado Véscio Barreto de Paiva (orador), João Bezerra de Melo (bibliotecário), Oscar Whitehurst (diretor da seção de rádio) e Carlos Lamas (diretor de esportes).

Enquanto isso a “Sociedade” escolha a diretoria (sexta-feira 25). O jornal presidido pelo professor Ulisses Celestino de Góis, do redator-chefe Otto de Brito Guerra e do redator-secretário Francisco Veras Bezerra (ex-deputado) continua com a cobertura (sexta-feira, 20/9) e avisa que expirado o prazo de apresentação de modelos e escudos aceitar os mesmos até o dia 25 atendendo desejo dos sócios concorrentes.

O jornal do Centro de Imprensa (141, 14/1/1936), vinculado a Congregação Mariana de Moços (surgida em 1918), reporta que a “Sociedade” elege a diretoria para o biênio 36/37 (9/1) e posse (domingo 12) na sede da Cidade Alta: presidente Carlos Lamas (foto), Carlos Farache (vice), Joaquim Augusto da Costa (tesoureiro), Cleto de Paula Botelho (secretário), Porfírio Ferreira (segundo), Paulo Lira (diretor artístico), Alfredo Correa (diretor de broadcasting) e o citado Durval Barbosa da iniciativa primeira como diretor técnico. Conselho de sindicância: Pedro Machado, Augusto Salvador e Benedito de Góes.

No mesmo mês (domingo 26) divulga a suspensão das irradiações para construção de novas instalações no pavilhão da feira de amostras (Ribeira) cedido pela Prefeitura. “Os trabalhos estão bem adiantados e na próxima semana reinicia a programação abrilhantada por elementos destacados do meio culto potiguar”. Ao meio dia (sábado 30/5) o professor Luís da Câmara Cascudo, do Atheneu, falará no rádio sobre a Páscoa dos professores.

A Sociedade (340, quarta-feira, 23/9) suspende o experimento por determinação dos Telégrafos por não ser permissionária e concessionária do serviço. “Não conseguimos por ser nossa transmissora impotente e não preencher formalidades burocráticas. Tínhamos as melhores intenções para levar a frente esse fator de progresso. Apesar de não funcionar há quase quatro meses a diretoria trabalha para obter dos poderes públicos o auxílio necessário a instalação definitiva.

Dois dias após a segunda surpresa. Um dia antes a Rádio Clube emite comunicado: – Por circunstância estranha aos propósitos tornou-se inteiramente desfavorável o ambiente criado para a aquisição da estação, ainda que por isto não se deva considerar irrealizável, podendo, por outro lado, com esforço, união e tenacidade de todos os membros, conseguirem o numerário necessário para a efetivação mais tarde daquele fim. A diretoria delibera cinco pontos assim detalhados:

  1. a) Criar oficina para concertos; b) assistência técnica gratuita aos associados cobrando apenas 5$000 para manutenção e custeio da oficina, vendendo também aparelhos e acessórios pelo custo com adicional que não poderá exceder de cinco por cento; c) considerar os sócios matriculados e futuros desobrigados da contribuição mensal, que não poderá ser exigida enquanto não for encomendado o transmissor; d) autoriza o presidente a fazer operação de crédito se necessário e substituir o primeiro e segundo tesoureiros para evitar solução de continuidade na receita e despesa; e) a resolução complementa o estatuto e será tida como regimento interno da oficina.

Assina o presidente Celso Amâncio Ramalho (advogado e bacharel em 1914 na Faculdade de Direito do Recife, membro da Comissão de Sindicância da OAB e funcionário da estrada de ferro), Adalberto Marques (segundo secretário), que viria a ser membro do Conselho Fiscal da futura REN três anos depois, o aeroviário Arthur Grant de Oliveira (diretor da seção de rádio) – gerente da usina de algodão Santa Rita (Santa Cruz), pertencente aos irmãos Teodorico e João Bianor Bezerra –, Laércio Fernandes (secretário) e João Bezerra de Melo (bibliotecário).

A terceira tentativa de implantação é assunto de capa pela primeira vez na edição 644 (domingo, 30/10/1937): – Um grupo de radioamadores (Joaquim Augusto Costa, Segundo Wanderley, Carlos de Noronha e Paulo Brandão), alguns dos que antes dirigiram uma estação, conta merecer das autoridades o apoio para o empreendimento, tendo solicitado permissão aos Telégrafos. E com potência superior a anterior. Mas pelo resto do ano e no seguinte some do noticiário.

Atencão para este personagem: Whitehurst envia carta (29/1/1925) ao diretor da Rádio Sociedade do Rio (PRE2) relata que sintoniza com nitidez, mas pessoas tem dificuldades no Recife (onde se encontra em junho do mesmo ano) pela interferência da Clube de Pernambucano. A segunda página ilustra o artigo.

Em 1932 se encontra licenciado como escriturário do Serviço do Algodão (Ministério da Agricultura), substituido temporariamente por Jaime Botelho, cujo sobrenome é o mesmo da mulher, Elza, mãe do filho Romario Oscar Botelho Whitehurst.No ano seguinte é demitido do emprego federal por não contar com dez anos de serviço.

Na mídia aparece na seção “Social” pelo aniversário (em janeiro), assim como o filho, até 1941. No ano anterior é passageiro no avião “Curupira” (piloto Licinio Correia Dias: o primeiro a completar um milhão de horas no ar), da Sindicato Condor (em 1936 estende a linha de Natal para Fortaleza), vindo do Distrito Federal.

FONTES

A Ordem

Diário Oficial da União

Fundação Oswaldo Cruz