*José Vanilson Julião
A primeira emissão de rádio no Brasil ocorre com a Clube de Pernambuco (6/4/1919), a PRA-8, quando legalizada (1923). Mas nasce oficialmente (7/9/1922) com a transmissão da fala do presidente Epitácio Pessoa (Umbuzeiro/PB, 23/5/1865 – Petrópolis/RJ, 13/2/1942) nas comemorações do centenário da Independência – logo no proximo ano completa 100 anos. No ano seguinte (20/4) ocorre a instalação da primeira emissora registrada: a Sociedade do Rio de Janeiro (prefixo PRA2). Seguida da segunda carioca (1924): Clube (PRA-3) – a primeira a veicular anúncios comercialmente. Até 1934 surgem pelo menos mais 20:
Distrito Federal: Educadora (1926), PRA9 Mayrink Veiga (1927) e PRC6 Philips (1930); São Paulo: PRA6 Educadora (1923), PRA5 Clube (1925), PRB9 Record (1925), PRB6 Cruzeiro do Sul (1927), PRB7 Clube/Ribeirão Preto (1924), PRB5 Hertz/Franca (1925) e PRB4 Clube/Santos (1926); PRB3 Sociedade/Juiz de Fora (1926) e PRC7 Mineira/Belo Horizonte (1927); PRB2 Clube/Curitiba (1923); Porto Alegre: Rio-grandense (1924), PRC2 Gaúcha (1925) e PRC3 Sociedade/Pelotas (1925); PRA4 Sociedade/Salvador (1924); PRC5 Clube/Pará (1928) e Sociedade/São Luís (1924) e PRE9 Clube/Fortaleza (1934).
Depois viriam a Rádio Jornal do Brasil (1935), as campeões de audiência do consorcio Associado a Tupi – Rio e São Paulo (1935), Nacional do Rio (1936) e até a Tabajara/João Pessoa (1937), na capital da vizinha Paraíba. Diante do quadro e das situações relatadas nos artigos anteriores a recepção em ondas média e curta é uma realidade para um caldo de cultura secundário no cotidiano da cidade. Até o jornal “A Ordem” acompanha um caso do roubo de um aparelho receptor durante 1935 ocorrido em dezembro do ano anterior.
Na edição 23 (sábado, 10/8/1935), em meio a um artigo, notícias e a coluna “Vida Feminina” o vespertino sapeca a nota: “Os proprietários de receptores na Ribeira solicitam providências a Companhia Força e Luz do Nordeste do Brasil para descobrir qual motor ultimamente produz forte ruído que não permite se ouvir qualquer estação por mais potente que seja.” A empresa era uma subsidiaria da General Eletric (GE) e teve importante papel na eletrificação do Brasil. Em 1917 opera na América Latina com a American & Foreing Power Company.
Atua no estado desde o começo dos anos 30 e três décadas e meia após é encampada pela Companhia Energética do Rio Grande do Norte (Cosern), criada pelo governador Aluizio Alves por meio da Lei 2.721 (14 /12/1961) e autorizada a funcionar pelo Decreto Federal 1.302 (3/8) para atuação nas áreas de transmissão e distribuição de energia elétrica. Ironicamente a empresa foi privatizada (1997) na gestão do sobrinho Garibaldi Alves Filho, sendo adquirida por consórcio Neoenergia, formado pela Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), Guaraniana e Uptick Participações.
Nos números sequintes faz a cobertura do curioso caso policial e jurídico: 34 (sábado 24/8), 47 (terça-feira 10/9) e 63 (sábado 28/9) – No processo em que o réu José Alves da Silva, acusado do roubo do rádio pertencente ao senhor David Cunha, o promotor público-adjunto, Oscar Wanderley, opinou pela denúncia. O juiz da Terceira Vara Criminal pronuncia como incurso no artigo 330 parágrafo quarto da Consolidação das Leis Penais. A promotoria apresenta o libelo após prazo da contrariedade para o julgamento (estranhamente não divulga o resultado final).
Na edição 405 (15/12/1936): – Anúncio da GE pega carona na febre radiofônica para vender geladeira, objeto de consumo que leva a poupar dinheiro e adquirir receptor de rádio. No número 457 (1937) outro anunciante de peso que apela para as ondas sonoras é o bonequinho “senhor Kilowat”, garoto propaganda da companhia concessionária para o fornecimento de eletricidade. Enquanto o Leprosário São Francisco de Assis (ainda hoje localizado no Quilometro Seis) – que abriga os portadores do mal de Hansen (ou hanseníase) já tem o rádio passa a contar com cinema para o divertimento dos internos (472).
Além de Carlos Lamas garantir até então ser o único distribuidor com serviço exclusivo de assistência técnica a primeira propaganda de um rádio-técnico aparece na edição 533 (27/5) com pequeno anúncio: “Doutor C. A. Ramalho faz convênio com técnicos do Recife e encarrega-se de conserto na oficina instalada na Rua Trairi com Caixa Postal 50.” E mais. Em nota “Comércio” o agente anuncia ter recebido dois “interessantes folhetos de propaganda” com a relação das principais rádios nacionais e internacionais (terça-feira, 29/6).
Na edição 588 (quarta-feira 4/8) aparece um dos primeiros anúncios da venda de um aparelho receptor usado no meio de ofertas tentadoras: automóvel Opel 1936 seis cilindros com oito mil quilômetros rodados; geladeira Frigidaire (cinco meses de uso); rádio Ultramar “em perfeito estado”, máquina de escrever Royal e “diversos móveis modestos em boas condições.” Como motivo da venda a retirada do RN do “senhor A. Barcelos.” Os interessados devem tratar no Banco do Brasil ou na Rua Jundiaí 702.
Anúncio da segunda assistência técnica fora dos distribuidores locais: – Teixeira & Cia. instala oficina na Rua Frei Miguelinho (Ribeira) para exame, concerto e venda de receptores de qualquer fabricante. E contrata pessoal competente e aquisição de aparelhos necessários, como analisador seletivo, oscilador e analisador de válvula a cargo dos técnicos (Chateaubriand Pessoa e Alcides Rocha).
FONTES
A Ordem
Associação Brasileira de Rádio e Televisão (ABERT)
Federação Norte-rio-grandense de Futebol