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80 anos da Rádio Educadora IV

Colaborador de Navegos enriquece em sua pesquisa a radiofonia potiguar e dá nova vida ao que era sabido sobre os pioneiros de uma história que engrandece a Cultura Potiguar.

*José Vanilson Julião

O centenário de nascimento (2005) foi lembrado pelo suplemento do Diário Oficial do Estado (DOE), do Departamento Estadual de Imprensa (DEI), surgido em 1941. O número 10 comemora um ano de circulação. No mês dos dias do Radialista (21) e da Radiodifusão (25). Outro não poderia ser o foco: “A saga do rádio potiguar.”

Carlos B. Lamas (Valparaíso, 1/9/1905 – Rio de Janeiro, 3/10/1972) e o pai, o judeu Elias, chega ao RN (1924) com mais um irmão (Antônio) e as irmãs Inês, Maria, Ana e Emília. Na capital potiguar nasce o casal Eddie e Ester.

O pai se estabelece com um armazém. O nome, germânico, significa “homem do povo”, não de popularidade. O ramo comercial da família também passa pela comercialização de tecidos e similares. A Casa do Amador, por outro lado, tem arma e alvo: brinquedos e crianças. Também na Dr. Barata (foto).

Da casa de Amador faz sede do consulado. Na noite de 23/11/35 é palco de cena da “Intentona Comunista”. É lá que se refugia o governador Rafael Fernandes Gurjão (Pau dos Ferros, 24/10/1891 – Rio de Janeiro, 11/6/1952) e a comitiva que participa da formatura do Colégio Santo Antônio (Marista) no Teatro Carlos Gomes.

Como representante do famoso piano “Essenfelder” funda a Sociedade de Cultura Musical, que seria presidida pelo quarto bispo da capital, dom Marcolino Esmeraldo de Souza Dantas (Inhambupe/BA, 22/1/1888 – Natal, 8/4/1967).

Tudo a ver com a cobertura da futura estação pioneira. Um parêntese para uma coincidência: a irmã Maria é cunhada do futuro sócio na rádio, o italiano Carlos, pois casa com o bacharel em Direito, comerciante, ex-futebolista e ex-diretor técnico do ABC, Vicente Farache Neto.

Os imigrantes chilenos também são envolvidos com a música e o esporte: futebol, tênis, basquete e voleibol. Na primeira edição “A Ordem” começa a cobertura esportiva da cidade. Na coluna “Desportos” amistosos do Sport/PE contra o ABC (domingo, 14/7/1935) e América (16).

O subtítulo “Basquetebol” noticia que dois dias antes participa de um torneio interno com o resultado “Banco” 6 x 12 “Chile”. Com o quinteto da segunda equipe constituída pelos irmãos Lamas (e os pontos marcados): Amador (dois), Jacob, Francisco, Afonso e Carlos (quatro). A tabela programa o próximo embate (terça-feira 16): “Natal” x “V – 8”.

É um dos organizadores de um amistoso em benefício do Orfanato Padre João Maria no Estádio Juvenal Lamartine: América 0 – 8 ABC (domingo, 25/8). Preliminar: Associação Feminina de Atletismo 4 x 4 Centro Esportivo Natalense. As equipes são representadas pelos “veteranos estaduais, interestaduais e internacionais”.

AFA: Renato Jacinto, José Serra, Amador Elihimas Lamas, Ernani Autran, Carlito Freire, Francisco Puonzo, Otacílio Werneck, José Gomes e Carlos Lamas. Reservas: Aparício Martins Cavalheiro, José Cabral de Macedo (Tarugo), Solon Aranha, Oswaldo Medeiros, Manoel Siqueira, Sérgio Severo, Carlos Filgueira, Olavo Lamartine, João Doria e Álvaro Pires.

CEN: Abel Viana (o panificador ex—goleiro americano), Telêmaco Fernandes, Francisco Canuto (um dos irmãos mossoroenses), Aristófanes Trindade, Antônio Farache, João Bezerra, David Cunha, Joseph Brown, Alzir Leal e Vicente Farache Neto. Reservas: Jaime Duarte, Aguinaldo Vasconcelos, Eric Gordon (vice-cônsul inglês), José Fernandes Queiroz, Carlyle Magalhães, Adalberto Porto, Arlindo Cavalcanti, Herculano Castro e Enéas Reis (um dos fundadores do ABC).

Edição 68 (sexta-feira, 4/10). Campanha em benefício da construção da capela do colégio Nossa Senhora das Neves: Rita Pinheiro, Tiburtino Bezerra, Tácito Brandão, João B. Gondim (comerciante), Chaves e Pinheiro, Amália Machado, Pedro Nolasco, Carlos Lamas, Solon Aranha, P. Urquisa Campos, Serquiz Elias & Filhos, Duodécimo Rosado, Ismael Pereira da Silva, Antônio Cleófas, doutor Antônio Soares, cônego Luiz Adolfo de Paula e Sólon Galvão.

25/12/1936: em franca atividade como cônsul e divulga o primeiro congresso hispânico-americano de imprensa no porto de Valparaiso (foto) em janeiro (8 a 15). 2/12/1937. O pavilhão “Benfica” contrata Lamas para instalação de possante rádio-eletrola para audição de discos.

Como precursor dos paredões de som o primeiro empreendimento partiu da Casa Carlos Lamas.  “Ele pôs em prática uma maneira inteligente e nova de divulgar os produtos, chamando a atenção não apenas para a loja como para o rádio”, como fora noticiado no jornal diário A República (janeiro de 1938):

“A firma instala um amplificador e a tarde a aglomeração em frente daquele estabelecimento ouve as irradiações ao ar livre. O maior interesse não é tanto pela música, mas, principalmente, ouvir elementos que cantam no seu microfone. Serve de speaker (locutor) Jacob Lamas, que possui qualidades apreciáveis para essa virtuosidade”.

Era interesse criar uma estação. Segue uma série de irradiações e ele percebe as preferências e educa as pessoas a se habituarem a ouvir rádio, mesmo no meio da rua ou em locais públicos, como na sorveteria a Criméia (Rua João Pessoa – Cidade Alta), onde instala um alto-falante.

É executado um programa de musicais carnavalescos, gravado em discos “Victor” e “Odeon”. Meses após transfere o evento, sobretudo no domingo, para a Praça Pedro Velho (Petrópolis), com o apoio do prefeito, o engenheiro civil Gentil Ferreira de Souza (Santa Cruz, 24/2/1901 – Natal, 4/11/1962).

Ao folhear a edição 741 (12/2/1938) o leitor é surpreendido com o repto: – O senhor Carlos Lamas e os discos imorais. Justifica: – A Ordem, cumprindo o dever de moralização dos costumes, não pode deixar de combater o mau cinema, a má leitura e tudo que infringe a moral cristã. Os discos e rádios também estão no caso.

A altercação de uma coluna e seis parágrafos destaca que a polícia paulista proibiu a venda e divulgação de seis discos considerados imorais: “Perna cabeluda”, “Você perdeu”, “Mulungu”, “Você faz tudo”, “Você usa e abusa” e “Onde está o dinheiro”. Ao final louva o empresário pela retirada das costumeiras irradiações os discos, inclusive os dois primeiros, já censurados pela polícia local.

Seis dias depois o vespertino não deixa de dar uma lasquinha em cima do comunicado empresarial sobre mais uma “irradiação” desde a “Criméia” (19 horas da sexta-feira): – Esperamos que o máximo critério na escolha das peças.

Com todas as atividades não descuida dos negócios e na primeira semana de junho contrata um rádio-técnico para montar um laboratório. E ainda anuncia a “deslumbrante” novidade que passa a vender: a enceradeira “Ra – Yo” (assim mesmo: as silabas separadas).

Em seguida o novo modelo do refrigerador “Ward”. Encerra o ano retificando na imprensa o número – “409 e não 405” – do novo endereço do consulado chileno: Praça Pedro Velho.

FONTES

A Ordem

A República

Suplemento “Nós do RN”

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