*José Vanilson Julião
Com a primeira assembleia geral – “A República” (4/2/1939) noticia a composição do grupo 14 dias antes de “A Ordem” – e a aprovação do estatuto (11/3/1940) não aparece novidade sobre a sociedade anônima que investe 200 contos de réis para alavancar a radiofonia na capital. A divisão das cotas acionária: Carlos Farache (360), José Gurgel Amaral Valente (350), Paulo Pimentel (150), Gentil Ferreira de Souza (130), José Elpídio dos Santos (50), Luís da Câmara Cascudo (20), Waldemar de Almeida (20), Severino Alves Bila (15) e Francisco Ivo Cavalcanti (15).
Neste ínterim surge o vespertino “O Diário” (18/9/1939), protagonista nesta história. Concluída a primeira etapa da papelada legal os idealizadores organizam ventos destinados a arrecadação de fundos com apoio de diversos seguimentos da sociedade, inclusive jogadores de futebol e artistas da IAP. São realizadas as campanhas do cimento e do disco, além de festivais.
A primeira iniciativa de arrecadação acontece com festival esportivo no Estádio Juvenal Lamartine (domingo, 17/3) envolvendo o selecionado da “Liga Suburbana” x “Carneirinho de Ouro”, da série de três partidas (“Copa REN”). A seleção conta com atletas conhecidos: Correia, o alecrinense Geleia (Geraldo Pereira da Silva), Xixirra, Taperoá e Cesário (ABC).
O clube social da Avenida Tavares de Lira – ainda resistindo na Ribeira – com as presenças dos abecedistas: o zagueiro Nezinho, o artilheiro cearense Francisco Rodrigues dos Santos (Xixico), o meia-atacante pernambucano Hermes Marques de Amorim (ex-Torre do Recife); e os americanos Zé Maria e João Acioli (Cabo João).
Da I Festa do Microfone (sábado, 6/4) no Teatro Carlos Gomes participa alunos do instituto de música (piano, violino e violoncelo), o regional de Sebastião Barros, o “Cachimbinho” (com “c” e não com “k”), “Aero Jazz” e quinteto “Blue Star” (estrela azul). A REN objetiva “irradiar programas de caráter artístico, cultural e educativo.” O evento em benefício da construção da instalação física e aquisição de equipamentos importados.
Participam artistas que irão compor o cast da emissora. A primeira parte, com o maestro Valdemar de Almeida, consta de números eruditos (piano, violino e violoncelo). A segunda música popular: Pedro Duarte Filho, Protásio Pinheiro de Melo, Iedo Genar Vanderlei, Jerônimo Gomes, Valter Caldas, Carlos Tavares, Paulo Lira, Porfírio Alves, Suzete Amaral, Dulce Pinto, Etelvina Silva e Elza Dantas.
Como locutor o doutor Josué da Silva Júnior, da Rádio Tabajara (João Pessoa), fundada em 25/1/37 pelo interventor Argemiro de Figueiredo com o nome de Difusora (PRI-4). É a 17ª mais antiga no País e a primeira da capital paraibana. A sucursal do Diário de Pernambuco envia telegrama dia 9 e o diário mais antigo da América latina registra o acontecimento na edição da sexta-feira 12.
A II Festa do Microfone também em outro sábado (11/5) com outros candidatos: Rubens Cristino, Valdemar Medeiros, Zezé e a dupla caipira, porque não dizer cômica, “Alto” e “Baixo”? Carlos Lamas entrega a premiação aos escolhidos de abril que responderam a pergunta promovida em todo o Brasil: Porque razão os rádios RCA são considerados os melhores?”
O primeiro colocado, Rômulo Wanderlei, representado por Genar, recebe um modelo New Yorker. O segundo, Guilherme de Oliveira, uma vitrola portátil. O terceiro, Fernando Brandão, seis discos. O concurso continua recebendo cartas até o final de maio. Mês em que a concessão é outorgada pelo Ministério de Obras e Viação (16).
Sábado, 15/6, a peça dramática “Renúncia”, de autoria de Francisco Ivo Cavalcanti, com atores do Grêmio Dramático. Nota de “A Ordem” (Artes): – os futuros artistas e cantores do elenco promovem a “Festa da Gratidão” (sábado, 9/7/1940) (20h45), dedicada aos locutores Josué Júnior e Genar Wanderley.
No domingo (11/8) os supostos componentes do “cast” se apresentam pela “Pan Jazz” no Cine-Teatro Rex (Avenida Rio Branco) após a sessão do filme “Zazá” (19h45), uma promoção do Centro Estudantal Potiguar em homenagem ao Dia do Estudante nos 113 anos do surgimento dos cursos jurídicos no País.
O III Festival do Microfone (terça-feira, 10/9) muda de local. Acontece no Cinema Rex (Rio Branco). Mas, agora, com um objetivo e tema específico: “Revelação de Valores.” A nota de capa de A Ordem: “A iniciativa desperta interesse pelo ineditismo. Candidatos estão inscritos para a festa de amanhã. Entre os presentes haverá um concurso, cabendo ao vencedor um grande brinde.”
O programa é dividido em duas partes. Uma “cinematográfica”. Outra radiofônica. Nas primeiras sessões é exibido um “Cinedia-Jornal”, um “Fox Movietone”, além de dois desenhos: “Porky, o picador” e “Como come um camaleão.”
Os candidatos cantam perante uma primeira comissão julgadora: maestro Valdemar de Almeida, escritor Luís da Câmara Cascudo, professores Maurílio Lira e Alcides Cicco (diretor do teatro e parente do médico Januário). O concurso é patrocinado pelo agente da Ford (Bezerra & Cia.).
Apesar das fortes chuvas caídas na noite do evento, candidatos comparecem para se submeterem ao crivo do concurso. Depois da sessão de cinema o locutor Josué Silva iniciou o complemento da programação discorrendo sobre as realizações da REN.
Em seguida passa a chamar os nomes dos candidatos inscritos, 30, mas somente comparecem 25. A comissão julgadora acaba constituída assim: professores José Monteiro Galvão, Gumercindo Saraiva, doutor Protásio Melo e o jornalista Aderbal de França (Danilo).
O quarteto julgador dá o “gongo” em nove candidatos. Sobram: Maria Teresa Maia (primeiro lugar), José Xavier de Almeida (segundo), Jacinto Maia (terceiro) e José Pinto Coelho (quarto). São premiados, respectivamente, com um relógio de pulso (oferecimento da Casa Farache), 100$, 50 réis, e um vidro de loção “Ecia”. A senhorita Claudina Costa recebe “um lindo estojo”.
Carlos Lamas, inclusive, fica responsável pela planta do prédio, na Avenida Deodoro, 245, no bairro de Petrópolis. A construção com o engenheiro civil Gentil Ferreira de Souza.
O vespertino católico (1525 – quinta-feira, 24/10) estampa “Contra os ruídos perturbadores das estações de rádio” e transcreve ofício com data do dia anterior, assinado pelo diretor-superintendente da Rádio Educadora de Natal com sede provisória na Rua Doutor Barata.
O documento diz: – Tendo chegado ao conhecimento da diretoria a campanha meritória movida pelo jornal (com vistas a Delegacia Regional dos Correios e Telégrafos) contra os ruídos estranhos que prejudicam as recepções, prestamos apoio e solidariedade na defesa dos bem estar daqueles que possuem aparelhos e não os podem escutar.
A Ordem (segunda-feira, 18/11). A essa altura a construção do prédio estava adiantada e se vislumbrava o erguimento da torre. “Toda de aço” e fabricada pela firma local, a T. Ramon & Companhia, “obedecendo aos mais avançados requisitos da técnica.” Faltavam apenas os cabos de aço, aguardados pela chegada, no porto, do “Butiá”.
“A torre será montada em cima do bloco de cristal fornecido, sábado último, pelo senhor Antonio de Oliveira, não tendo sido necessária a importação do mesmo, uma vez que existem em nosso Estado grandes jazidas do referido minério.” O doador entrega diretamente como “gesto espontâneo sem interesse material.”
Na segunda-feira (9/12) começa o levantamento da torre de 52 metros (seis toneladas) sobre o bloco de cristal lapidado (serve de isolamento), na base de concreto de quatro metros cúbicos, de onde partem 180 raios de fios de cobre (com 42 metros cada e 7.960 no total). O equipamento (“tipo pião”) está amarrada com 12 estais de aço, cada qual com quatro isoladores de porcelana.
Segue a construção do prédio. E na primeira quinzena de dezembro continua a campanha de aquisições das ações. Nos valores de um conto (1:000$000) e 400 reis (400$000). O comerciante Huascar Purcel adquire lote de cinco contos. Também compram papéis às prefeituras de Acari, Currais Novos, Parelhas e de Porta Alegre.
FONTES
A Ordem
A República
Diário de Natal
Assessorn
Brechando
Curiozzo
Fatos e Fotos de Natal Antiga
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Natal de Ontem
Tok de História