*Franklin Serrão
Muitas homenagens foram feitas e muitas delas meritórias e proporcionalmente fantásticas na medida desse grande homem Olavo Pimentel de Carvalho.
Certamente que diante do leque de assuntos apreciados pelo professor, muitas dessas homenagens seguiram caminhos e ritmos incomuns ao passo de cada autor.
Dessa forma me enquadro também no diagnóstico que acabo de fazer. Ao que no tocante cabe a eles, cabe a mim também.
Nesse sentido posso dizer que a grande contribuição do professor Olavo foi a de lembrar, para nós, que existe em cada ser uma mobília que deveras muitas vezes deixamos de lado, num canto qualquer. Essa mobília é de fato muito essencial para tal extravagância nossa; devemos, portanto, cuidados dos mais especiais a ela diariamente. Ela chama- se verdade.
Muitas vezes esquecemos da verdade em nossos julgamentos e ações. O professor julgava a verdade como um valor moral que precedia o valor cognitivo que dela se dispunha para seu fim. E isso é essencial. O indivíduo para saber algo deve procurar a verdade, porém, a verdade deverá antes de tudo, existir no indivíduo como um valor moral em si. Uma virtude do indivíduo (talvez a principal). Sem essa equação não é possível o indivíduo perceber a veracidade dos fatos uma vez que esta virtude não é algo em si existente.
Isso foi um pilar perseguido por Olavo pois ele, e uma epidemia inteira de filósofos, não sabiam por que, deveras, as pessoas ao longo de sua vida se desfaziam dessa virtude.
Como a verdade é precursora das ações e do pensamento, logo Olavo deduziu que na infância estava a origem. O valor moral no sentido da verdade é construído na infância a partir do momento em que as crianças começam fazer a distinção entre a fantasia e o mundo real. A verdade então se faz nesse momento um poder moderador pois isso implica na preservação do indivíduo ao meio físico; e assim essa virtude adquiri a autoridade sobre a criança. A verdade vai se tornando autoridade na criança a partir do momento que ela percebe que é um meio para sua preservação quando evita machucados e riscos maiores.
Foi a partir daí que Olavo desenvolveu sua teoria das camadas da personalidade.
Tal teoria implica na percepção de que o ser vai evoluindo quanto sua personalidade a medida que em sua vida vai vencendo etapas. Como uma cebola, cada camada seria uma casca que o ente (indivíduo) tem que se desfazer para seguir progredindo sua personalidade.
A maioria das pessoas não conseguem se desfazer dessas cascas e estacionam; sem avançar no desenvolvimento da sua personalidade. Em suma, algumas ficam numa eterna adolescência tardia e irresponsável, ou até mesmo numa infância eterna.
Isso, ao meu entendimento, explicaria o divórcio com a verdade que alguns, ou a maioria fazem com a virtude que na forma pura primeira, e a verdade da qual começamos falando. Por essas e outras, o professor e reconhecido e sua obra será eternamente discutida.
Agora vamos tomar um fôlego para dizer, sem exageros, que Olavo de Carvalho foi a melhor coisa dos últimos 500 anos no Brasil. De fato, nenhum intelectual antes mexeu tanto com tantos, nenhum fez acontecer um encontro entre Aristóteles, Platão, estoicos, escolásticos e o mundo moderno. No Brasil, todos os intelectuais foram no extremo do possível, em suas épocas, mas Olavo foi um pau torto, um contraponto, o inesperado, o incomum em seu tempo.
Se Mário Ferreira dos Santos foi cancelado pelos seus contemporâneos, Olavo foi resgate daqueles fundamentais esquecidos.
Olavo nesse sentido é a síntese entre o cruzado e monge, é a justiça intelectual agindo sobre a má fé, a mentira, e os vícios do pensamento dos modernos.
Por muito tempos, os furúnculos do Velho da Virgínia, não por gincana colegial, mas por meio de se fazer o bem, será no universo das ideias, o referencial de muitos que buscam conhecer alguma coisa além da hipnose prazerosa da modernidade.