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A arte bruta e armorial de Iaperi

Um dos mais importantes artistas de sua geração expõe coleção de seus últimos trabalhos na Pinacoteca do Estado, instalada no Palácio Potengi.

 *Francisco Alexsandro Soares Alves

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A exposição A Arte Bruta e Naïf de Iaperi Araújo está em exposição no Palácio Potengi até o dia 31 de janeiro. A exposição tem o apoio da Fundação José Augusto, do Conselho Estadual de Cultura e da Sociedade Amigos da Pinacoteca do Estado, erroneamente chamada de “potiguar” por ex-secretária de cultura.

Iaperi faz parte da geração de pintores que integrou o grupo dos Novíssimos e que procurou renovar a cena pictórica potiguar nos anos 60, juntamente com nomes como Dailor Varela, Marcos Silva e Olavo Medeiros. Já realizou mais de 40 exposições individuais e esteve presente em outras 700 exposições coletivas, recebendo o título de “Mestres do Brasil”, na Bienal Naïf de Piracicaba em 1994 e realiza, desde 2016, o Salão Dorian Gray de Arte Potiguar.

A obra plástica de Iaperi dialoga com elementos da cultura popular e da cultura erudita, fundindo elementos díspares em um todo harmonioso que se estrutura formalmente na denominada arte Naïf. Porém os temas de Iaperi transitam por elementos que, se se incorporam à tradição Naïf, vicejam outras paragens estéticas, sem nunca esquecer suas origens naïf.

Nesse aspecto, a arte de Iaperi é Armorial, ao fundir elementos populares com eruditos.

O discurso do artista abre caminhos duplos, encruzilhadas. Caminhamos com o pé no mar e outro na terra, porém o terreno não se torna movediço, não há insegurança.

Seus retratos de Frida Kahlo ou suas madonas, que ora lembram a Madona Sistina, mostram como o artista transita, armorialmente, por entre esferas que se complementam.

O gênero Naïf surgiu a partir das pinturas de Henri Rosseau, mais especificamente O Alfandegário. Abandonando a perspectiva em favorecimento de uma expressividade mais natural, por vezes coloquial, o Naïf se estabeleceu na pintura sempre com muitas críticas. Hoje, sendo um gênero já admirado e consagrado, tem em Iaperi, no Rio Grande do Norte, um nome de alta expressividade.

Iaperi se distingue de outros artistas do gênero por suas preocupações estéticas diversificadas.Tradicionalmente, o Naïf brasileiro se concentra em temas oriundos dos folguedos nordestinos, do cangaço e da religiosidade popular. Iaperi não esquece, evidentemente, tais temas, porém os entrelaça com elementos mais diversos.

Essas travessias do artista são bem sutis, quase imperceptíveis em um primeiro momento, são refinadas, demonstrando o preparo e o equilíbrio consciente de Iaperi.

Esse equilíbrio entre popular e erudito perpassa essa exposição e é um convite ao deleite visual e imagético, cheio de referências, que iniciando na estética Naïf, navega rumo ao Armorial pernambucano.

A sensibilidade que faz essa travessia, indo e voltando, do artista Iaperi, o torna um representante distinto na cena plástica potiguar, porque ao inserir tais elementos não naïfs em suas composições, o artista não apenas inova dentro de sua arte, mas também abre caminhos novos para futuras gerações de pintores, que poderão encontrar em Iaperi uma proposta estética que une a tradição e a inovação, e isso é para artistas já maduros, experientes de seu ofício. Artistas que compreendem as grandes veredas da arte enquanto tradição e inovação, ruptura e conservação.