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A casa-grande do Engenho Cruzeiro

Colaborador de Navegos escreve sobre o Engenho Cruzeiro, fundado por um inglês, em 1899, considerado na época o equipamento mais moderno no gênero.

*Gerinaldo Moura

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O Engenho Cruzeiro foi construído num local, onde forma com os engenhos Umburanas, Verde Nasce, Oiteiro e Mucuripe um corredor cultural e arquitetônico com suas belas construções e até mesmo com as ruínas que teimam em consumirem paulatinamente um pedaço de nossa história econômica e cultural construída durante o ciclo da cana-de-açúcar no vale do rio Ceará-Mirim

No final do século XIX, mais precisamente no ano de 1899, conforme inscrição em seu frontão, na era da República no Brasil, foi construído o Engenho Cruzeiro por um cidadão inglês, o Mr. Samuel Bolshaw, que tornou-se genro do Dr. Victor José de Castro Barroca, senhor do Engenho Verde Nasce, ao casar com sua filha, a senhora Joaquina de Castro Barroca no ano de 1872.

O Engenho Cruzeiro era um dos mais modernos, tendo uma grande produção, graças aos modernos equipamentos que foram implantados no processo produtivo por seu fundador o Mr. Bolshaw, influenciando e ao mesmo tempo forçando outros senhores de engenho a se modernizarem e permanecerem por mais tempo num mercado cada vez mais exigente e competitivo.

Segundo o folclorista Luís da Câmara cascudo:

“…Mr. Samuel Bolshaw era um homem de imaginação prática, trabalhador inesgotável de planos, com iniciativas e esforços no terreno econômico, merecedor de recordação.”

(Jornal A República 05/06/1959)

A casa-grande do Engenho Cruzeiro era de uma beleza extraordinária e de uma solidez formidável, o que se pode perceber pelas ruínas que lutam inertes para mostrar a sua história através da arquitetura diferenciada, pois, foi construída sobre uma espécie de porão elevado. Era todo forrado em madeira de lei, provavelmente extraída das matas existentes na região e que veio a servir de piso (assoalho) do andar superior, dando um aspecto imponente ao velho casarão.

A construção demonstra ter sido construída de forma a ser bastante arejada e ventilada por demais, o que justifica na sua fachada principal voltada para o vale do rio Ceará-mirim, uma grande quantidade de portas e janelas todas construídas em vãos de vergas retas, que era para evitar as indesejáveis fissuras ou rachaduras nas extremidades das mesmas, com a singularidade do uso de madeira e bandeiras de vidros, empregada nas construções de origem árabe.

A casa-grande foi construída com duas águas, uma característica da maioria das construções portuguesas espalhadas pelo Nordeste do Brasil, além dos frontões triangulares, possuía platibanda que emoldurava a parte superior do edifício cuja função é a de esconder o telhado e as calhas.

Mesmo no estado atual em que se encontra a casa-grande, ela ainda conserva no seu interior o antigo piso de tijolo e as tábuas sobre o porão (esse já bastante carcomido) e algumas de suas paredes já ruíram. Todavia, diante desse quadro que caminha para perda total, o imóvel ainda guarda sua antiga grandiosidade.

Cinco anos mais tarde, foi construída a Capela do Engenho Cruzeiro, dedicada a São Francisco de Assis, no ano de 1904, de acordo com inscrição anotada na fachada principal do templo.

Quando Mr Samuel Bolshaw foi embora para a região de Arêz (RN), o engenho foi adquirido pelo Coronel da Guarda Nacional Francisco José Soares, ficando depois sob a administração da senhora de engenho dona Florência Maria Soares que o repassou por herança ao Major Onofre Soares Júnior, estando suas terras em poder de seus herdeiros até os dias atuais.