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A cátedra da boçalidade militante

O jornalismo- quero dizer o velho jornalismo – faliu. Até a InterTV está apagando as luzes da seção local do Globo Esporte, um programa que durante anos não podia faltar à Hora do almoço. O fato não é uma surpresa, pois há mais de 40 anos o Fundador de Navegos já nos avisava em vários de seus escritos: O jornalismo está vivendo os seus últimos momentos.

*Franklin Jorge

Conhecendo a boçalidade, como cheguei a conhece-la de perto, fico a imaginar o que puderam ensinar aos seus alunos, por mais de 30 anos, pessoas como Vicente Serejo, a própria encarnação da cátedra desprovida de enchimento acadêmico e humanístico. Uma fátua representação do nada que avassala tudo e nos leva a ver tudo através do fundo de uma agulha.

Talvez isto explique de maneira didática a falência do jornalismo entre nós, por muitos e muitos anos disseminado por alguns seres vociferantes e cheios de si. Mais cheios de si do que quaisquer outras coisas que pudessem ser minimamente úteis àqueles que buscavam, através do uso profissional da palavra, um meio de vida, para alguns, obscuro e digno. Para outros, como o próprio mestre, um trampolim. Uma maneira de obter o difícil, da maneira mais fácil.

A rigor, o jornalismo já é falecido entre nós ou travestido de assessoria de imprensa, de fabriqueta de releases, enfim, um processo que paga melhor, mas despoja a todos de opinião, ao fazê-los robôs da objetividade e da bajulação, às vezes dissimulada.

O que tem sido a cátedra, entre nós, se não um palco para a exibição de mediocridades? Algumas meramente espertas e bem-sucedidas, como se valesse a pena, em vez do verdadeiro jornalismo, o simulacro de algo em essência muito importante para ficar em mãos de jornalistas.

Creio que foi isto que percebeu o jornalista chileno Juan Pablo Meneses, ainda muito jovem e já provido de uma madureza que nos faz pensar, como pensava Charles Baudelaire, numa espécie de advocacia popular. Um processo à serviço da saúde pública, como batizou o jornal que criou e que teve, se não me equivoco, uma ou duas edições que serviram, no entanto, para assinalar uma nova maneira de compreender o jornalismo como algo em potência.
Por ter se tornado em palco a cátedra tornou-se alvo do ridículo, a ponto de uma professora dizer-me que recorreria, em suas aulas de Cultura Brasileira, aos livros de Luís da Câmara Cascudo, por ser ele não apenas um homem de Direita, mas, em certa fase de sua vida, p chefe do Integralismo entre nós. É inconcebível que se use a cátedra para exercer a censura. mas não numa universidade que se tornou stalinista e perseguidora de ideias antagônicos.