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A consciência negra e revolta de Luís Gama

Colaborador de Navegos escreve sobre Luiís Gama [1830-1882], nascido livre e depois vendido pelo próprio pai, senhor de escravos, destacou-se como  escritor, abolicionista, rábula, satirista e jornalista combativo.

*Carlos Russo Jr

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“Para o coração não há códigos: e, se a piedade humana e a caridade cristã se devem enclausurar no peito de cada um, sem se manifestarem por atos concretos, em verdade vos digo aqui, que afrontando a lei, que todo escravo que assassina o seu senhor pratica um ato de legítima defesa.” Luís Gama.

Pese existirem registros de revoltas dos escravos desde o século XVII, foi no século XIX que a rebelião negra atingiu seu auge.
Edison Carneiro, um dos nossos maiores etnólogos, especializou-se em temas afro-brasileiros.

Em “Antologia do negro no Brasil”, ele esquematizou a reação do negro contra a escravidão em quatro formatos básicos:

Revoltas organizadas tendo como objetivo a tomada do poder político, como os levantes armados dos negros Malêses na Bahia, que tiveram a duração de quase trinta anos.
Insurreições espontâneas, como a Balaiada no Maranhão.

A fuga para o mato e a formação dos Quilombos.
A organização dos “caifazes” de Luís Gama e de Antônio Bento.

Serviam de organizadores e auxiliares do movimento geral de fuga dos escravos das fazendas paulistas, negros que buscavam refúgio nos quilombos do Jabaquara e da Serra de Cubatão. Foram de enorme importância no desenvolvimento da consciência e da revolta negra.
Luiz Gama, “um baiano, o herói da abolição da escravatura em São Paulo”, nas palavras de Afonso Schmidt.

Um grito de inconformismo e luta ecoa ainda hoje, 150 anos após: Liberdade, Liberdade! O grito da consciência negra contra os preconceitos das elites carcomidas brasileiras!

*Fragmento de A bodorrada, sátira que celebrizou o seu autor:
Eu bem sei que sou qual Grilo
De maçante e mau estilo;
E que os homens poderosos
desta arenga receosos,
hão de chamar-me tarelo,
bode, negro, Mongibe.

Porém eu, que não me abalo,
vou tangendo o meu badalo
com repique impertinente,
pondo a trote muita gente.
Se negro sou, se sou bode,
pouco importa. O que isto pode?

Bodes há de toda a casta,
pois que a espécie é muito vasta…
Há cinzentos, há rajados,
baios, pampas e malhados,
bodes negros, bodes brancos,
e sejamos todos francos,
uns plebeus e outros nobres,

bodes ricos, bodes pobres,
bodes sábios, importantes,
e também alguns tratantes…
Aqui, nesta boa terra,
marram todos, tudo berra.