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A cortesia em vias de aposentadoria

Educadora analisa costumes e prevê o fim da cortesia como expressão de civilidade e a constituição de legado de má educação.

*Nadja Lira

A palavra cortesia é definida nos dicionários de Língua Portuguesa, como sendo maneiras delicadas de civilidade; polidez; afabilidade. O trato diário com os mais variados tipos de pessoas nos mostra que essas virtudes estão se transformando em meras palavras adormecidas nos livros e dicionários, porque na vida real elas já não fazem mais sentido. Isso porque a correria à qual as pessoas são submetidas pela vida moderna, vem fazendo com que elas se esqueçam de algumas regras importantes para uma boa convivência social. Desse modo, percebemos que algumas virtudes como a cortesia, a delicadeza, a amabilidade e a gentileza nos gestos, atitudes e nas palavras parecem estar em vias de extinção.

Se continuarmos nesse ritmo, não sei o que ocorrerá com as crianças de hoje, os adultos do futuro, para os quais estamos deixando um legado de má educação. Como muito bem afirmou o filósofo Pitágoras, “devemos educar as crianças para não punir os adultos”. Portanto, é necessário ensinar um pouco de amabilidade às nossas crianças. Afinal, a vida se torna mais prazerosa quando lidamos com um pouco de polidez.

Palavras como, por favor, com licença, obrigada e desculpe, parecem ser completamente desconhecidas de um considerável número de pessoas, enquanto pequenos gestos civilizados e gentis como ceder a cadeira no ônibus a um idoso ou gestante, estão completamente fora de uso. Nem mesmo os assentos preferenciais instalados nos transportes públicos ficam livres para serem ocupados a quem estão destinados. Não é raro verificar esses assentos ocupados por pessoas jovens, enquanto grávidas e idosos viajam em pé.

Os idosos, aliás, mais parecem portadores de doença contagiosa, porque ninguém quer chegar perto. Poucos são os que têm paciência para lidar com eles e poucos também são os motoristas de transportes coletivos que param nos pontos, para levá-los. É como se todos imaginassem que permanecerão jovens e fortes para sempre. O tempo, porém, é implacável e não livra a cara de ninguém: Se vivermos suficientemente, todos seremos idosos cedo ou tarde.

Valendo-se da justificativa de que a violência é grande e que a gente não sabe com quem está falando, as pessoas estão criando um muro de proteção em torno de si, e esquecendo até de dizer bom dia, boa tarde, boa noite, ou até mesmo de dar um sorriso para os que estão na fila do supermercado, por exemplo. Não existe pessoa tão dura que não responda a um cumprimento, um pedido de desculpa, ou que não se emocione diante de um sorriso.

Um dos maiores e mais difíceis ensinamentos deixados por Cristo foi justamente “amar ao próximo como a si mesmo”. Na prática, porém, não é isto que estamos fazendo. Não podemos negar que a qualquer momento podemos ser vítima da violência, passando a fazer parte dos números frios das estatísticas da criminalidade, entretanto, não podemos nos permitir perder nossa civilidade.

A intolerância, aliada à falta de cortesia, tem crescido de forma assustadora e tudo porque as pessoas estão esquecendo de que, as mais difíceis situações podem ser apaziguadas através de um diálogo, ou um pedido de desculpa. No dicionário da Língua Portuguesa existem algumas palavras mágicas, com o poder de abrir portas, conquistar sorrisos, acabar discussões: Obrigada, desculpe, com licença, por favor. Essas palavras precisam ser mais colocadas em prática no nosso dia-a-dia.

 Nadja Lira – Jornalista – Pedagoga – Filósofa.