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A Cracolândia de Álvaro Dias

Alexsandro Alves, escritor e professor, sobre o caicoense Álvaro Dias, que com muito desprezo por Natal, fomenta a fome, a mendicância e a pobreza extrema pelas ruas dessa cidade, que imagina administrar, que imagina gerir, porém sua soberba não condiz com a realidade, e Natal morre pelas mãos de um “imortal”.

*Alexsandro Alves

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Este é o primeiro, de três artigos sobre Álvaro Dias, prefeito de Natal, denominados em conjunto: A Trilogia da Avareza.

Natal vive avaros dias. Dias de pobreza, de fome, de mendicância. Enquanto a cidade está cada vez mais tétrica e de pires na mão, o gestor sovina coleciona riquezas. A última, foi a imortalidade por conta de um livro que o mesmo afirma que escreveu, mas que a nossa Academia de Letras achou por bem enriquecer o gestor sovina com mais esse luxo, é um imortal das letras potiguares. Luxo por cima de luxo. Bem longe de ser uma distinção entre escritores, ser eleito para a Academia Norte-rio-grandense de Letras, hoje, é apenas questão de status e de luxo. Não vale muita coisa, literariamente falando. E para agradecer o favor à casa de Diógenes da Cunha Lima e Isaura Rosado, o prefeito destinou R$ 200 mil à instituição.

Constantemente eu caminho pela Ribeira. Vocês já se deram conta do que ocorre por lá? No quarteirão da Avenida Duque de Caxias, na altura do Banco do Brasil, contornando pela direita, na Esplanada Silva Jardim e por fim, olhando para a esquerda na Rua Almino Afonso? Ninguém vê? Ninguém se importa?

Ali, a céu aberto, diante dos pacatos cidadãos, cresce a nossa Cracolândia. Depois de abandonar a Ribeira, de torná-la uma antítese do que outrora era, agora chegou o momento de o poder público entregar seus novos inquilinos. Eles se multiplicam. Magros, esqueléticos pela fome e pela pobreza, consomem substâncias ilícitas para permanecerem aquém de seu sofrimento social. São pessoas.

Pessoas em estado de total humilhação. Pedem centavos para se alimentar. Mas não. É para drogas. Que outros alimentos podem libertá-los da sina? Ao menos temporariamente. Está se formando um exército de mortos-vivos. Como ocorre em São Paulo. Não percebi crianças. Apenas adultos. Na maioria casais. Passam o dia perambulando para lá e para cá, alguns cambaleiam, na “viagem” que o organismo experimenta; outros brigam ou falam sozinhos. E há o fedor. Típico fedor de acúmulo de mazelas sociais e individuais. Há sujeira. Há lixo. Há pessoas dormindo assim.

A Ribeira é o depósito para o esquecimento, para o que incomoda e para o que não se quer conserto. O poder público avaro desses dias está tornando a Ribeira um bolsão de algo que, com o tempo, se não forem tomadas as medidas necessárias, se espalhará pelo Centro da cidade, tomará Petrópolis… Aí, quem sabe, tomarão a atitude “para debaixo do tapete”, da gestão, dos inícios do século passado, Omar O’Grady.

Desgraçados avaros dias. Eu imagino que R$ 200 mil seriam um bom início para resolver o caos, modelo Cracolândia, que toma a Ribeira. Mas o pagamento pela imortalidade contribui para matar a cidade.