*Da Redação
O assunto caiu como combustível em um prédio já em chamas. A fala do deputado federal Eduardo Bolsonaro, que comparou professores doutrinadores a traficantes, e ainda afirmou que aquele é mais perigoso que este, tem causado bastante mal-estar nas redes sociais e nas conversas nas salas dos professores.
De certo que a fala do deputado é um disparate, isso é. Primeiro porque essa questão de doutrinação, em plena era digital, não convence. Hoje, nem as igrejas doutrinam mais, quiçá um professor que no máximo permanece 100 minutos por dia em uma sala de aula com cerca de 40 alunos. Com a informação dando saltos de abrangência e de acessibilidade graças à nova era da revolução industrial, a era do microchip, que já se encaminha para seu iminente fim, e só Deus conhece o que está por vir nesse multiverso digital, podemos afirmar com toda a segurança: não há doutrinação em sala de aula.
Os corpos discentes das instituições de ensino já têm, em sua maioria, opinião formada sobre quase tudo – e a maioria não se interessa por política. Alunos sempre conversaram e conversam com seus pais sobre os conteúdos dados em sala de aula, se algum professor sair da rota, imediatamente o alunato aciona a família, e esta, a escola. Nunca se precisou dessa perseguição que falas como a do deputado representam. Ou das denúncias que movimentos empresariais como MBL fizeram, de professores sendo filmados no exercício de suas funções, um caça às bruxas digno da repressão stalinista.
Esse tipo de palanque serve apenas para manter sempre alerta o seu eleitorado. Um eleitorado, aliás, enganado por seus próprios líderes. Um eleitorado, aliás, que confiou no pai do deputado e hoje se vê às voltas com grades e acusações de todos os tipos. É fácil para o deputado atacar assim os professores. Difícil é defender seu próprio pai e o povo brasileiro que confiou nele e em suas bravatas, bravatas de cachorro morto, como se vê hoje! Não é, deputado?
Todavia, a fala inconsequente do deputado não é o que de fato tem tornado, ao longo das décadas, a educação brasileira um território hostil. Falas como as do deputado só são possíveis porque a educação chegou no ponto em que chegou: um lugar que ninguém leva a sério. Eduardo Bolsonaro é apenas mais um que coloca lenha na fogueira da inquisição contra os professores. Antes dele, todos os governos! Federais e estaduais e municipais, com seus secretários e secretárias de Educação que culpabilizam, diante da sociedade, os professores pelo mal geral que aflige a educação. As falas do deputado são tão criminosas quanto quaisquer outras que sempre são jogadas como lenha inquisitória contra os docentes por outros políticos. Como as falas da atual secretária de Educação do Estado, Maria do Socorro da Silva Batista, por exemplo, que repetidas vezes, e seguindo uma cartilha antiga, indispõe e criminaliza o magistério ante a sociedade.
Nessa edição de Navegos, os colunistas e seções (clique nos nomes para ir direto ao artigo): José Vanilson Julião, Edek Kowalewski, J. R. Guzzo, Calle del Orco e Rua dos Vivos. Desfrutem.