*Alex Pipkin, PhD
Nos últimos dias impressionou-me o número de artigos que li, alertando e rechaçando sobre a estéril cultura do cancelamento.
Tal fato não deixa de ser um sinal positivo em relação a esse estúpido hábito, já que os “novos juízes” sentenciam punição e banimento de todos aqueles que divergem em pensamento e opinião da “constituição progressista”, elaborada por “especialistas”, em especial em termos de atitudes e de comportamentos.
O patrulhamento sistemático, apesar de bisonho, faz derramar sangue entre os lábios daqueles que, em última análise, desejam a censura.
Alguns, seguramente, irão se resignar e afirmar que “deixa pra lá, é assim”, porém, todos os lados e cantos devem compulsoriamente ter a liberdade e o ambiente propício para se manifestarem, caso contrário, rumaremos para uma sociedade em que inexiste a vital liberdade de expressão e, pior, para um futuro de emburrecimento e de involução.
O nascedouro pensante e transformador para a implantação e disseminação desta cartilha ideológica é a universidade, das elites, dos intelectuais interessados e dos experts dos livros, embora livros de uma só cor e visão de mundo.
Mas a universidade não deveria expressar e propagar a totalidade do conhecimento? A universidade não deveria formar especialistas nas diversas e respectivas áreas do conhecimento, ao invés de militantes de uma única facção?
Não se combate um eventual mal com um outro mal. O que agora vemos, especialmente, nas universidades, na forma de retórica e de ação, é a discriminação para além do pensamento, já que a fisionomia e a aparência são aquelas que contam. Desse modo, discrimina-se os possuidores de características que se opõem a “constituição progressista”.
Desta forma, apesar de não possuirmos nenhum Prêmio Nobel, tenho a sensação de que quase que diariamente avançamos as “fronteiras do conhecimento”.
Aliás, a discriminação não é exclusividade do mundo acadêmico. A cultura do despertar e do cancelamento adentrou o último reduto, o meio empresarial, em que os CEO’s querem – muitos deles comprovadamente em nível de estratégia de comunicação – resolver os problemas sociais do globo -; esses fartam-se com os investimentos de capital em suas empresas, enquanto os “não despertos” precisam ser alijados de tais recursos e, portanto, punidos. Mas a concentração excessiva nas preocupações com o ESG não poderá desviar o foco e reduzir a lucratividade de uma empresa? Penso que objetivamente sim.
Não é difícil observar que a cultura do despertar e do cancelamento entranhou-se em toda a sociedade, em todos os campos, amaldiçoando os valores civilizacionais que construíram e suportam o Ocidente.
Tradições são tradições, evidente, podem ou não serem adotadas pelos indivíduos, não são ditames jurídicos, estão aí para ser escolhidas ou não pelas pessoas, contudo, é imperativo e vital que se respeite, com tolerância, distintas decisões.
O que me parece temerário, é a perda de valores essenciais, e mais do que isso, o verniz do bom-mocismo e do altruísmo da cultura do despertar e do cancelamento, apagando valores que direcionam o bem comum e a prosperidade.
Excelência é um valor edificador e inegociável, especialmente quando se quer trocar pela discriminadora identidade.
Fundamental é avançar com base nos fatos e nas evidências.
Portanto, não apoio esse autoritarismo disfarçado de “justiça social”, prezo pelo contraditório e, especialmente, oponho-me a essa clara pressão por conformidade ideológica.