• search
  • Entrar — Criar Conta

A emoção de atar laços

Músico e pedagogo escreve sobre suas observações acerca do comportamento humano.

*Cleudo  Freire

 

O LAÇO E O ABRAÇO

Maria Beatriz Marinho dos Anjos

Meu Deus! Como é engraçado!

Eu nunca tinha reparado

como é curioso um laço…

uma fita dando voltas.

Enrosca-se, mas não se embola,

vira, revira, circula e pronto:

está dado o laço.

 

Sempre me chama a atenção o modo como as pessoas aprendem as coisas, devido à carga emocional demandada da raiz à periferia. Realmente é apaixonante perceber como o corpo reage aos desafios através de expressões faciais, inquietação, angústia, excitação, tensão, alegria. São estas, demonstrações da ebulição emocional que ocorre internamente e o corpo de fato não esconde a um olhar atento e hábil o que se passa no cérebro.

Em certo nível, um fato novo é como um pequeno big-bang cerebral transformando a percepção, a noção que tinha-se das coisas e por sua vez a realidade. Novas conexões cerebrais são realizadas para que possamos lidar com a situação, nesse momento criança e adulto se igualam por um motivo muito simples e óbvio: aprender algo é tocar a nossa natureza selvagem, é ter a sensação de voltar a um momento inaugural e isso é muito realizador e emocionante.

Estas inevitáveis conexões provocam mudanças pessoais que categoricamente nos levam de um ponto a outro, de modo que jamais seremos os mesmos, pois, de fato, houve uma mudança neurológica significativa, que se bem orientada, é também autoconsciente.

É sabido que crianças entre 5 e 7 anos,  desenvolveram as funções básicas das áreas sensoriais precoces do córtex cerebral. Nesse ponto, elas já têm a visão desenvolvida por completo e ao desenhar um rosto, por exemplo, já não deixam faltar o nariz. Elas conseguem fazer relações de comparação entre formas com mais precisão e sutileza e é natural que a habilidade da leitura se desenvolva mais rapidamente a partir daí. Vejam que com os avanços da neurociência, hoje, entende-se que o cérebro utiliza a mesma área de reconhecimento facial para a leitura. É nessa direção que elas agora irão se encaminhar.

Para ser mais objetivo, por volta dos 3/4 anos, quando eles olham para as formas das letra p, b, d praticamente não vêem diferença, mas à medida em que o desenvolvimento daquelas áreas sensoriais do córtex cerebral vão se concluindo, elas vão tendo uma percepção mais clara da diferença entre elas.

Toda essa movimentação passa num primeiro momento pela estranheza, depois por uma espécie de caos e finalmente por uma acomodação dos novos conhecimentos ao campo preexistente de entendimento da realidade.

Nossa fotografia já não é a mesma, nossos movimentos se aprimoraram, a relação com a realidade imediata foi alterada com a ampliação do campo de percepção e seguramente estamos renovados.

Literalmente, na raiz da razão estão as emoções num movimento de dar voltas, de enroscar e aparentemente embolar, dar voltas, virar, revirar fazer círculos e enfim atar o laço.

Aprender, é por assim dizer, a emoção de atar laços, e a cada novo laço, nos fazermos prontos para o desafio de novos enlaces. Esse drama é cíclico, nada monótono, posto que é cognitivamente emocionante!

Cleudo Freire – Músico, pedagogo, especialista em Educação.