*Alexsandro Alves
Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras.
Nunca isso foi tão verdadeiro em se tratando de nossa literatura, porém, essa imagem revela um filme ruim.
Eu não procurarei me deter ou ser linear nesse texto.
Houve, tempos atrás, duas eleições para novos membros da Academia Norte-Rio-grandense de Letras. As vagas foram ocupadas por nulidades da literatura do Rio Grande do Norte. Isaura Rosado e, pasmem, o prefeito Álvaro Dias – que teve inclusive seu livro elogiado por alguns que, sem dúvida, não o leram, a não ser que sejam cínicos e, para variar, já tenham chutado mesmo o balde da literatura potiguar.
Em 1998, Franklin Jorge recebe o Prêmio Câmara Cascudo. Um escritor de distinção e senhor de um estilo que une a força da palavra e as inquietações que lhe são típicas (nossa gente, nossa cultura) a um estilo repleto de nuanças e cromatismos, por vezes sombrios, como uma tela do primeiro van Gogh, da fase realista.
Outros tempos…
Prêmios assim devem ser dados não por vaidade ou por obrigação, mas pelo valor literário de quem o leva.
Isso nos leva a um dado implacável, o Jabuti está em extinção, mas que precisa ser escrito e publicado, como um lembrete para futuros leitores de Navegos, para que saibam que, em 2023, no Rio Grande do Norte, existia gente desconfiada, gente que sempre anda com a pulga atrás da orelha e que não se deixa seduzir por imagens.
Herman Hesse, em O lobo da estepe, preconiza que a solidão é a meta própria do grande escritor.
Hoje, quando observamos a ANRL, Hesse dá seu testemunho (antes que eu me esqueça, certo dia, um imortal comentou com Franklin: “ninguém suporta aquilo”, se referindo aos membros da ANRL e sua convivência com a instituição. É só vaidade.
Quem diria que em plena época de diversidade e preocupações ambientais, o Jabuti seria morto? Ironia profunda do Destino!
Mataram o Jabuti.
Quem o matou?
Vocês já viram como é uma aula de português hoje? Ou uma aula de um curso superior de pedagogia? Certa vez, passei duas semanas em uma parada de ônibus próxima a um curso superior de pedagogia, queria ouvir as conversas dos discentes, colher algumas coisas de útil. Uma das professoras, além de viver em viagens, quando estava em sala de aula, falava de política e questões ambientais… segundo a conversa dos alunos…
Em muitas escolas não há aulas de português! Estudantes do terceiro ano fazem ENEM sem aula de português o ano inteiro.
Mas são politizados!
Não sabem construir um parágrafo decente e seu repertório de palavras estacionou no nono ano, ou antes; mas sabem diferenciar o oprimido do opressor.
E se intentarem escrever livros? Baudelaire que diz “livros nascem de livros”…
É a morte do Jabuti!
Muitos livros hoje são escritos não por gente de talento, mas por pequenos agitadores que transformam palavras de ordem em “literatura”.
E é isso hoje o Prêmio Jabuti. Ele morreu. Mas sua morte foi precedida por outras: primeiramente a morte da educação; depois, a morte da crítica; depois, a morte do ensino de português. O valor mesmo da literatura foi se diluindo e se confundindo com pautas políticas. A palavra que liberta foi soterrada por imagens repetitivas, como um discurso vazio, em que a pobreza da expressão é compensada pelo número de vozes.
Hoje, com a morte do Jabuti, seus restos se transformaram em palanque.
Após ver alguns indicados, não falarei em nomes, a desconfiança com esse prêmio foi cravada como uma estaca! É a ANRL tornando imortal o prefeito de Natal, Álvaro Dias, aliás, o prefeito se tornou imortal graças a um livro sobre os índios do Rio Grande do Norte, ao menos, ninguém pode dizer que Álvaro Dias não tenha timing! Porém é a mesma esculhambação literária. Gente sem talento, mas bem no filme, na imagem!
Mas que fique bem claro: Navegos não compactua com a mediocridade. E que fique também bem claro: no Rio Grande do Norte há escritores e poetas, escritoras e poetisas, bem melhores do que os do morto Jabuti, que como uma pancada nonsense em nossa boa vontade, nos oferece.
É o teatro do absurdo!