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A falta que Antenor faz

Fundador do Navegos comenta a ausência que o mestre de gerações de estudantes potiguares e romancista nova-cruzense se impôs; seu brilhantismo intelectual criou um dos marcos da literatura norte-rio-grandense, que narra a saga de sua cidade natal

Franklin Jorge

Embora sequestrado do nosso convívio, de maneira inexplicada, o professor Antenor – ou o memorialista, escritor, cronista e articulista Antenor Laurentino Ramos –, autor de um livro que revela o criador polifacético dotado das Artes do Feiticeiro, a guiar-nos os passos de leitores por uma prosa hipnótica, encantatória, a despertar em cada um o prazer da leitura ou da amizade, como diria Proust.

Professor de milhares de jovens, alguns hoje no topo de suas carreiras, terá sido em seu magistério mais que um repassador de pontos: um mestre a desafiar os jovens a irem ainda um pouco mais além. Alguém capaz de despertar o melhor em cada um de seus discípulos que o lembram por seu entusiasmo e didática comunicativa.

Tive a honra de, através da FeedBack, editar o seu livro que nos faz passear por Nova Cruz, num tempo que corresponde à infância do autor. Antenor Laurentino Ramos nos deu em seu “Memorial da Anta Esfolada”, a par do estilo um documentário etnográfico que certamente há de deliciar os pesquisadores e estudiosos que virão. Li essa obra na medida em que ia sendo escrita e, por fim, a seu pedido, o acudi com o título com o qual tem circulado, sugestão prontamente acatada. Não sei se isto me dá o direito de sentir-me, de alguma forma, parte dessa obra que há de se tornar prestigiosa com a duração do tempo.

Como todo grande escritor que ombreia com os pares de sua geração, Antenor é um criador literário personalíssimo e apaixonado cultor de José Lins do Rego, estudando-a e divulgando nas salas de aula por onde passou.

Antenor faz-nos voltar à Nova Cruz no espaço e no tempo, ao evocar o mundo de sua avó poderosa que acolheu a sua mãe, abandonada dentro de uma caixa de sapatos na porteira do seu curral. Lendo-o, nos deparamos com figuras como o tabelião e chefe político Belmont, amante de sua avó, os tipos populares que há toda a parte, os fenômenos de um rico entroncamento ferroviário que  fez próspero o antigo e mitológico vilarejo, a cidade que enfim crescia e se agigantava economicamente.

Seu livro é um documentário inesquecível. Habitado por uma comarca de seres vivos, “Memorial da Anta Esfolada” ressalta o mítico, o real e o imaginário, expressos num estilo absorvente e cheio de verve.

Como ser humano, no convívio íntimo – e como educador de jovens, em especial –, esmera-se Antenor em servir-nos o que Dante chamava de “pão dos anjos”, uma boa conversa, uma leitura em grupo, em confraternização e celebração da amizade.

Que nos seja devolvido com presteza, são e salvo. Pelo fim do sequestro do professor Antenor Laurentino Ramos!

Franklin Jorge, diretor de Redação do Navegos, é autor dos livros “Ficções Fricções Africções” (Mares do Sul; 62 págs.; 1999), “O Spleen de Natal” (Edufrn; 300 págs.; 2001), “O Livro dos Afiguraves” (FeedBack; 167 págs.; 2015), dentre outros.

MESTRE DAS PALAVRAS E DO SABER O professor aposentado das redes pública e privada Antenor Laurentino Ramos, autor do livro “Memorial da Anta Esfolada – Nova Cruz no Espaço e no Tempo” (FeedBack; 172 págs.; 2014); ele dá nome à biblioteca da Unidade III do IAP Cursos em Natal (rua Professor Almeida Barreto, 1062, Lagoa Nova)