*José Vanilson Julião
Com o comando financeiro, econômico e político no agreste paraibano a família Ribeiro Coutinho passa a influir no Rio Grande do Norte a partir de 1947, quando a Usina Bela Sociedade Anônima passa ao controle acionário do grupo empresarial do vizinho estado, depois de convocação pelo jornal oficial “A República” (31/12/1946).
“A Ordem” (edição 3.383 – 29/3) publica ata da assembleia geral extraordinária para reforma do estatuto e aumento do capital social (datada de 8/1) com abertura da sessão pelo diretor-gerente Milton Varela, que, eleito presidente por aclamação, convoca como secretário o acionista Jorge Fernandes da Câmara.
Entre os acionistas Antônio Basílio Dantas Ribeiro, Waldemar Dias de Sá, Enéas Cavalcanti de Albuquerque, Onofre Soares Júnior, Cleto Ligório Soares da Câmara, Gastão Fernandes da Câmara, Gilvan Gomes de Oliveira, Severino de Melo e o pernambucano e ex-interventor federal no RN, Ubaldo Bezerra de Melo.
O jornal diário vespertino católico veicula uma das primeiras entrevistas na imprensa local do industrial paraibano (página quatro e seis da edição 3.503 – 26/8), engenheiro agrônomo e agora diretor presidente da Ilha Bela, Luiz Inácio Ribeiro Coutinho. Ele encontra a usina produzindo 40 mil sacos de açúcar com a pretensão de dobrar no ano seguinte e chegar a 120 mil com a aquisição de novos equipamentos e montagem de caldeiras modernas.
Ribeiro Coutinho reclama do limite imposto para a produção (25.382 sacos). “Uma ninharia. Como no ano vindouro vão ser fixados limites em definitivo, agora é o tempo de um movimento conjunto dos poderes do Estado, representantes do povo e jornais, no sentido de não ficar o Rio Grande do Norte aquinhoado com um limite verdadeiramente ínfimo, com graves prejuízos, não só para a indústria açucareira como também para a economia estadual.”
– Sei que São Paulo e Paraíba conseguiram duplicar o limite, o mesmo sucedendo com outros estados. Até agora o RN nada conseguiu. O rompante do repórter: – Desculpe a franqueza. Dizem por aí que os senhores pretendem dominar o vale do Ceará-Mirim. Resposta: – Posso garantir-lhe que não alimentamos ideias imperialistas.
Prossegue: – Realmente adquirimos a Ilha Bela e agora a Estivas (Arês). Mas não queremos açambarcar a produção. Temos financiado senhores de engenho para desenvolvimento das culturas, o que deve ser ressaltado, principalmente numa época de absoluta escassez de crédito, inclusive com adiantamentos. E revela a promessa da construção de dez quilômetros de estrada de ferro com entroncamento na localidade de Massaranduba com a ferrovia da Central.
O clã na sociedade: Luiz Inácio, Renato, João Úrsulo Filho, Cassiano, Flávio, Abelardo, Odilon Ribeiro Coutinho e Pedro Ramos Coutinho. E, claro, o diretor-comercial Aderson Elói de Almeida.
O interventor – Ubaldo Bezerra de Melo (Recife, 17/5/1894 – Natal, 19/8/1974), filho de João Bezerra de Melo e Idalina Bezerra de Melo, está com a família para Natal (1905), faz estudos primários no Colégio Santo Antônio e secundários no Ateneu Norte-Rio-Grandense.
Funcionário do Departamento dos Correios e Telégrafos em 1917 ingressa na Inspetoria Federal de Obras contra as Secas (IFOCS) até 1927 e desempenha função de pagador. Com o golpe (1930) é escolhido para presidir o Banco do Rio Grande do Norte.
Industrial, entre 1939 e 1945 foi membro do Conselho Administrativo do Estado, colegiado que substituiu a Assembleia Legislativa no Estado Novo (1937-1945). Em fevereiro (1946) substitui como interventor o desembargador Miguel Seabra Fagundes.
Arrecadou a maior receita financeira até então recolhida no RN e em janeiro (1947) assume o general Orestes da Rocha Lima. No pleito de outubro (1954) elegeu-se deputado estadual pelo Partido Social Democrático. Foi membro do conselho consultivo do Banco do Nordeste (54/55).
Foi primeiro vice-presidente da Assembleia Legislativa (1955/56), encerrou mandato em janeiro/1959 e deixa a carreira política. Ubaldo foi diretor do Lóide Brasileiro em Natal e diretor-presidente da Caixa Econômica Federal.
Como empresário foi diretor da Bezerra & Cia, concessionário da Ford Motors Company, e pioneiro na indústria açucareira potiguar, sendo responsável pela instalação das usinas Ilha Bela e Santa Teresinha.
Foi casado com Haydée Bezerra de Melo, falecida anteriormente, com quem teve nove filhos. Em homenagem foi inaugurada (1979), em Ceará-Mirim, a Escola Estadual Interventor Ubaldo Bezerra de Melo.
FONTES
A Ordem
Fundação Getúlio Vargas
Fundação José Augusto
História da Assembleia – Luís da Câmara Cascudo
