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A função da crítica

Fluente e profundo em suas observações sobre Literatura e Sociedade, o filósofo e escritor inglesTerry Eagleton resume, em um livro curto mas de longo alcance, suas percepções da crítica inerente ao ato de pensar. Leia também nesta edição a entrevista do autor sobre o Fundamentalismo, que ele descreve como fruto do medo de um mundo em processo de transformação, não do ódio, publicada em El País.

*Franklin Jorge

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A Função da Crítica, de Terry Eagleton, é um clássico ensaístico; obra de referência, concisa e densa, questiona em estilo fluente a sobrevivência do gênero como exercício intelectual, por excelência, para a saúde das ideias.

Abduzida pela indústria cultural, tornou-se mão de obra no ramo de relações públicas, e agora limita-se a produzir releases e resenhas, como operadores de uma linha de montagem de best-sellers, os críticos não tem mais opinião – e, sobretudo, cultura humanística e literária necessária para tratar a questão. Não são leitores, mas camelôs de produtos editoriais pasteurizados, ou ventríloquos da indústria cultural, bonecos falantes, isto é, robôs aptos a produzir em escala industrial a propaganda das grandes casas editoras.

É livro muito didático e precioso pela riqueza de informações, descritas em estilo fluente e elegante; um livro arguto que aguça a percepção e nos faz pensar que vivemos numa era marcada por uma produção literária apressada e sem nenhuma densidade, uma produção cada vez mais superficial e anônima, transformada em um reles produto sem a marca do pensamento e do estilo que é a assinatura do autor.

Um peso e uma impertinência, assim tem sido considerada e vista o exercício da critica, no correr do tempo, segundo a lição prodigada por Eagleton. A atividade critica, em si, com suas ameaçadoras insinuações de conflitos e dissensão, oferece-se para desintegrar o consensualismo da esfera pública – afirma o estudioso inglês em defesa de sua tese.

Nascida da luta contra o Estado absolutista, foi a crítica em sua origem panfletária, adensando-se, com o tempo, em ensaio; um gênero que requer repertório humanístico e alguma capacidade de reflexão e discernimento para distinguir o trigo do joio. Atualmente a critica tem perdido toda a relevância social. Transmutou-se em resenhas forjadas, às vezes, com retalhos de opiniões sem consistência, quando não em xepas de releases e doses de imaginação. Um ramo bastardo do jornalismo chamado cultural com balcão de negócios, a crítica deixou de ser opinião para ser propaganda comercial, e nada mais. Não aprendemos mais com a crítica, substituída que foi pela resenha, um subproduto cultural como outro qualquer que vomita sobre leitores acríticos essa indústria selvagem.

Há todo um vasto dicionário de ideias e conceitos concernentes à critica e sua função social, contidos nesse ensaio de Terry Eagleton, que o escreveu com rigor de informação e inteligência, para deleitar o leitor e subsidiar os pesquisadores e estudiosos em busca da pedagogia do conhecimento. De elaboração cuidadosa, Eagleton esmiúça os fatos e provoca o leitor, como o faz ao delatar a ascendência da opinião pública sobre o Estado, citando Stuart Mill (“como uma força perigosamente homogeneizadora”) e conclui que em qualquer época a crítica há de ser sempre malvista, ao por em dúvida o convencionalmente aceite.

E, numa época de dissolução e decadência, faz-nos saber que Addison, como crítico, segundo o comentário de Beljame, “voltava seu olhar não apenas para a corte, mas para todo o conjunto da sociedade”, procurando abrir os olhos de todos para a Literatura.