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A gata Sashi

Alexsandro Alves, escritor e professor, escreve sobre uma pequenina que surgiu de repente, sem avisar e foi, confiantemente, se aninhar em seus pés…

*Alexsandro Alves

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A noite nem estava muito fria. Da janela, observava galhos receberem, como braços erguidos numa benção, um leve sereno. Estava tudo tão monótono. Tranquilo, calmo e monótono.

Então me sentei na poltrona, a mente procurando permanecer vazia, tal como a sensação noturna marcava minha carne.

Estava muito interessado em não fazer nada, nem mesmo pensar.

Um cadáver esquecido em um lar.

E nesse desejoso esquife permaneci durante muito tempo. E foi então que ouvi, ao longe, um miado desconhecido. Sem querer, puxei pela memória auditiva…

Não era Tori; nem Sushi; nem dona Tetê… quem era?

Saí. E, na rua, segui em direção ao miado novo. Parei e fiquei esperando mais miados. E não percebi.

Ela estava aninhada em meus pés! Ela veio silenciosa, tranquila e segura, e permaneceu ali, como se me conhecesse, como se eu pudesse lhe prestar alguma ajuda.

Como se tivesse que ser assim.

Uns três meses? Tão fofa. Pelagem mourisca acinzentada. Ali, no meio da rua, com tantas encruzilhadas e tantas esquinas, veio miar na minha porta. Escondida no mato, sai cautelosamente para os pés daquele que, em sua imaginação indecifrável e suave certeza, mesmo sendo humano, é incapaz de fazer-lhe mal. Como poderia ela saber? Como essa certeza foi sentida por aquela criaturinha?

Domina pela suavidade. Não miou mais desde que ficou aos meus pés. Apenas ronronou.

Peguei-a. Será que quando a levava para casa ela pensava eu sabia que seria assim? Fiquei olhando para ela enquanto a levava, segurando-a pela pele do pescoço. Ela nem me olhava. Estava com os olhos para cima, não me encarando. Eles são assim.

Assim que entrei, o primeiro pensamento foi ela não pode engravidar.

E assim foi.

Porém ela engravidou. Começou a lamber constantemente a barriga. Muitas vezes.

Eu senti. Mas não podia.

O veterinário veio buscá-la. No outro dia havia cinco filhotes, menores que uma unha, já devia fazer uns cinco dias, me disse o veterinário.

Só pude sentir mesmo.

Hoje, quando ela vem para mim, a gata Sashi, e se enrosca em mim, nas minhas pernas, fazendo oito, e quando ela mia me chamando para abrir a porta do quarto para ela entrar ou quando sobe na mesa em qualquer refeição e me olha, docilmente…

Eu imagino havia cinco filhotes, menores que uma unha, já devia fazer uns cinco dias

E só posso sentir.

E nas fotos abaixo, um dia após a operação…