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A gente não quer só comida

Colaboradora de Navegos faz contundente registro da passagem do cantor Chico Buarque por Natal, cujo ingresso para o seu show custou mais da metade do que ganha por mês a maioria do povo potiguar para sobreviver.

*Nadja Lira

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O público potiguar recebeu mais uma vez, o cantor Chico Buarque de Holanda, declaradamente defensor do comunismo e do ex-presidiário Lula-Ba-Bá da Silva. Mas, o show do artista não é para qualquer bolso, uma vez que os ingressos cobrados custam entre 350 e 700 reais. Logo, sua apresentação foi transformada em showmício, contando com a presença da governanta do Estado, Fátima Bezerra. Afinal, dinheiro para ela não é problema, porque o povo potiguar lhe paga um salário muito gordo, para a destruição do Estado.

Considerado como um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira, Chico Buarque ganhou notoriedade no cenário musical brasileiro nos anos 70, depois de vencer um festival com a música A Banda. Recentemente, um vídeo circulou na Internet, onde o cantor dizia que a letra das músicas que cantava, não era de sua autoria. Ele as comprava de compositores estrangeiros. A veracidade de tal gravação jamais foi desmentida.

Verdadeiro ou não o tal vídeo, o fato é que o jovem, tímido e dono de um par de belos olhos verdes, revelou-se um artista excepcional, conseguindo levar ao topo das paradas, inúmeras de suas composições como Modinha, Mulheres de Atena, Meu guri, Construção e tantos outros sucessos cantados por esse mundo afora.

Muitas destas composições, que expunham as mazelas do Brasil, foram proibidas durante o Governo Militar e ele também foi vítima do sistema: muitas das músicas que ele cantava foram censuradas. Várias delas, para serem aprovadas sem problemas, levavam um pseudônimo, ao invés do seu nome real. A letra poderia ser a mais inocente possível, mas, ostentar o nome de Chico Buarque era motivo suficiente para sofrer veto.

Um fato, porém, chama a atenção e não pode passar despercebido aos nossos olhos em relação à apresentação de Chico Buarque de Holanda em Natal: trata-se do valor cobrado pelo espetáculo que chega a R$ 700,00. Considerando-se que o Salário Mínimo nesse meu País varonil é de R$ 1.212,00, fica claro e evidente que o show de Chico Buarque de Holanda não é para qualquer um, e muito menos para a classe trabalhadora do Estado.

Longe de mim insinuar que uma apresentação do artista não valha essa quantia, mas é que o valor do ingresso fica realmente fora da realidade de um trabalhador assalariado que também deveria ter acesso à cultura através de espetáculos musicais.

Talvez o cantor nem saiba, mas existem trabalhadores no Rio Grande do Norte, que sequer chegam a ganhar um Salário Mínimo no final do mês. Aqui, na terra de Luiz da Câmara Cascudo, desafortunadamente, o Salário Mínimo é um valor extremamente real e não apenas um número de referência para a realização de alguns cálculos, conforme ocorre em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, entre outras regiões do País.

Para algumas famílias residentes no RN, ganhar a importância de R$ 1.212,00 significa garantir, com muito sofrimento, a sobrevivência da família, dando-lhe o mínimo possível. Quem sobrevive com esse valor tendo que pagar alimento, aluguel, transporte, vestuário, educação, medicamentos e todos os demais itens necessários à sobrevivência humana, não pode se dar ao luxo de pagar um show no valor de R$ 700,00.

Fica claro, portanto, que a cultura não é um produto de primeira necessidade para o povo brasileiro, em especial para os potiguares menos afortunados e que contam com o mínimo para sobreviver.

Chico Buarque que me desculpe, mas com o valor cobrado para assistir ao seu show, qualquer potiguar pode comprar um monte de bugigangas no comércio do Alecrim, inclusive um CD dele, para escutar até ficar com dor de ouvido.