*Nicholas Lund
Em dezembro, um amigo me marcou em uma postagem sobre uma ave rara (foto acima). Estou acostumado: como fã de pássaros, meus amigos me avisam constantemente quando um novo estudo é publicado ou quando uma ave rara aparece. Mas esse post foi diferente .
Postado em uma página do Facebook chamada “Route 370-Newfoundland News & Weather”, o post tinha o que parecia ser a foto de um pássaro vermelho e branco empoleirado em um galho nevado. O texto dizia: “Um raro cardeal vermelho e branco com suas cores festivas aparece no Canadá. “Sua aparência incomum se deve à ginandromorfia.”
Já vi cardeais com ginandromorfismo (o que significa que um indivíduo possui características de ambos os sexos), e eles não possuem nenhuma das cores que o pássaro “cardeal Papai Noel” do Facebook tinha. Também tinha um bico fino e amarelo como o de uma galinha, em vez do bico grosso e laranja do cardeal boreal , uma característica que o ginandromorfismo não alteraria. Estava claro que ele não era cardeal, mas o que ele era?
A pesquisa reversa de imagens não ajudou, mas quando olhei mais de perto, a resposta era óbvia. O pássaro parecia ter três patas e a ponta da cauda estava coberta de neve. Não era uma foto real, mas uma fantasia foto realista criada por inteligência artificial.
Postei uma resposta rápida para meu amigo, tentando fazer com que ele não se sentisse mal por ter caído no golpe, mas ao ler os mais de 2 mil comentários pude perceber que não era o único. Compartilhado mais de 10 mil vezes e com 24 mil curtidas, esse pássaro imaginário foi um sucesso viral para um grupo do Facebook acostumado a números muito mais modestos com mensagens como Garfield dizendo “ Feliz segunda-feira!” ou avisos de alces na estrada .
Fotos de pássaros sempre foram populares nas redes sociais. Os pássaros são lindos, de um jeito simples que atrai quem não busca polêmica ou política. A fotografia de pássaros é uma atividade igualitária, recompensando igualmente a imagem de um pássaro raro de uma selva remota e uma bela foto de um pássaro em um quintal.
Mas a popularidade dos pássaros nas redes sociais, não surpreendentemente, levou ao mau comportamento. Os fotógrafos atraem corujas jogando ratos comprados em lojas para tirar fotos de ação ou aparando galhos ao redor de um ninho para obter uma foto mais nítida. Quem não quer sair para obter imagens de pássaros recorre ao Photoshop e outras ferramentas de edição, como esta imagem de uma “coruja arco-íris”.
A inteligência artificial generativa tornou o processo de geração de conteúdo sobre aves mais fácil – e pior. Pelo que eu sei, a postagem “Pássaro do Papai Noel” originou-se no final de novembro de outro grupo, Wildlife Planet , que publica apenas pássaros gerados por IA. Este grupo e inúmeros outros, a maioria com nomes genéricos como Pássaros incríveis do mundo ou Pássaros lindos , existem unicamente para espalhar conteúdos falsos nas telas de um público ansioso e desavisado.
Pode-se perguntar se isso é prejudicial. Uma avalanche de imagens falsas de pássaros certamente tornará a Internet mais confusa, com muitos usuários sem a capacidade de distinguir quais pássaros são reais e quais não são. Bill Hubick, cofundador do Projeto de Biodiversidade de Maryland, nos Estados Unidos, foi alertado de que sua organização havia sido usada como fonte para um artigo sobre as espécies selvagens únicas de Maryland. Todo o “artigo” foi gerado com inteligência artificial e estava repleto de erros, mas também parecia preciso o suficiente para enganar quem não sabia, por exemplo, que o peixe conhecido como darter de Maryland, que, segundo o texto, “ adiciona um toque de cor aos ecossistemas aquáticos do estado”, na verdade não é visto desde 1988. (Embora se o texto não parecesse estranho para você, o cervo voador e o pássaro com cabeça de cobra na imagem podem ter lhe dado um dica.)
Felizmente, existem ferramentas para lutar pela verdade. Existem serviços online que podem ajudar a detectar vídeos falsos e detectores de voz criados com inteligência artificial . A melhor ferramenta para um observador de pássaros pode ser a Biblioteca Macaulay do Laboratório de Ornitologia da Universidade Cornell , um banco de dados online de dezenas de milhares de espécies de vida selvagem, incluindo pássaros, anfíbios e mamíferos. Existem mais de 10.000 espécies de aves vivas na Terra, e cada uma que conhecemos tem uma entrada na Biblioteca. Folheando as melhores imagens , estou frustrado por nos preocuparmos em usar inteligência artificial para isso. Qual é o sentido de inventar coisas quando já existem tantos pássaros reais impressionantes por aí?
