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A literatura é uma aventura de riscos

James Joyce e Julien Gracque comentam sobre os riscos de escrever, a literatura como estrada sem destino em que persiste, sempre, o embate entre o ontem e o amanhã, e o hoje, que cobra seu preço.

*James Joyce e Julien Gracque

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Quanto mais estamos ligados aos factos, mais tentamos causar a impressão certa e mais nos afastamos dos resultados financeiros. Ao escrever, é preciso criar uma superfície que mude continuamente de acordo com os ditames da sensibilidade contemporânea, versus a estabilidade do estilo clássico. É nisso que consiste o “trabalho em andamento”. O que importa, porém, não é o que se escreve, mas como se escreve; na minha opinião, o escritor moderno deve ser acima de tudo um aventureiro e estar disposto a correr qualquer risco e falhar na sua empreitada, se necessário. Em outras palavras: devemos escrever perigosamente; hoje tudo tende a mudar, e a literatura atual só terá valor se conseguir refletir essa instabilidade.

James Joyce

 

A literatura, sem dúvida, cobra seu preço: temos também os nossos calçados e as muletas, pernas e limitações, que nos parecem botas de cano longo e que os leitores de depois de amanhã, se permanecerem, saberão calçá-las, como fizemos no passado, e sem nos censurar muito mais, no estoque ortopédico da literatura. A literatura está em outro lugar. Se é válido, se significa alguma coisa, só pode ser o que nos lembra a bela expressão de Rimbaud: “a alma aplicada à alma – e puxando”. Para qual lado ele puxa é, se você quiser, seu verdadeiro conteúdo.

Julien Gracque