*Franklin Jorge
Poucos criadores, como Proust, sentiram e consignaram em sua obra a magia dos nomes. Dos velhos nomes que herdamos de outras eras, não desses nomes inventados pela ignorância ou criatividade erradia que prospera por toda a parte, de que é exemplo notório a justaposição de silabas de dois ou três diferentes nomes para compor uma anomalia etimológica sem pé nem cabeça. Agradava-lhe sobremodo as denominações de antigos lugares, às vezes esquecidos na província remota, como agradavam aquele padre que mergulhava com encantamento na sonoridade enigmática dos nomes de lugares cuja origem se perdiam no tempo.
Não me surpreende, pois, que o autor de Em busca do tempo perdido pudesse deleitar-se com a profundidade de conhecimento do Barão de Charlus, que sabia apreciar os sortilégios de um nome nimbado de história e significativos. Por isso pensou em um primeiro momento dar ao seu romance-rio um titulo muito diverso daquele pelo qual se fez universalmente conhecido e reverenciado como um artista da palavra cônscio do que cria. Esse título, depois esquecido, seria A idade dos nomes, ou seja, dos sortilégios, das descobertas e da magia que sabe criar o artista digno de entusiasmo.
De fato os nomes tem o seu mistério, como Clarisse e Anna, que em grego se traduz por ‘’ a graça de Deus’’ e, Jorge, padroeiro da própria Grécia e da Inglaterra, por agricultor, como agricultor terá sido o primeiro homem que se fez rei, reconhecido pelos seus com uma tal distinção, como alguém que semeia e colhe e, consequentemente, lidera e instrui. Resulta essa relação profunda e congênita da aristocracia para com a terra que nos sustenta e nutre, mesmo quando árida, mesmo quando inóspita, porque é da terra que herdamos.
Jorge se traduz, portanto, como o senhor de sua agricultura – no meu caso especifico, como o terá interpretado em sua generosa erudição Stella Leonardos -, agridoce.