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A mais alta forma de sinceridade  

Escritor de língua espanhola, com profunda ironia, pergunta-se o significado obscuro de uma frase de Nietzsche sobre Maupassant.  

*Enrique Vila-Matas

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Estou interessado na ironia como uma trama contra a realidade. E quanto a “a forma mais elevada de sinceridade”, a verdade é que já me perguntaram muitas vezes sobre essa frase. Eu serei honesto. Escrevi sem saber bem o que queria dizer. É por isso que a frase me assombra. Todo mundo me pergunta sobre ela. E eu esclareço isso todos os dias de uma maneira diferente. Dizem que um livro clássico é aquele que nunca deixa de responder às perguntas que nos fazemos sobre ele e é por isso que dura tanto e se torna um clássico.

É o que acontece comigo com essa pergunta, que se tornou um “clássico” nas minhas entrevistas mais recentes. Todo mundo está se perguntando o que eu queria dizer com a frase. Isso me lembra uma de Nietzsche que Savinio colocou no início de seu livro Maupassant e o outro. “Maupassant, um verdadeiro romano”, leia a legenda Nietzsche. “Não estou brincando nem um pouco”, disse Savinio em uma nota de rodapé desta epígrafe, “se digo que a definição de Nietzsche ilumina efetivamente a figura de Maupassant. E gostaria de acrescentar: pelo absurdo.

Isso o ilumina ainda mais porque não se sabe o que Nietzsche quis dizer ao chamar Maupassant de romano, e talvez ele não quisesse dizer nada, como frequentemente acontece com Nietzsche. Mas, será que o leitor me entenderá se eu disser que o que a maioria das pessoas diz é não dizer nada?

Enrique Vila-Matas

Auto-dissidente. entrevista a Ana Solane

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