*Da Redação
Rachel Jardim nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais. Em 1942 foi morar no Rio, depois de uma temporada em Guaratinguetá, São Paulo, na fazenda de seu avô paterno que hoje foi transformada em clube. A literatura de Rachel Jardim impregna-se destes universos. Depois de uma carreira bem-sucedida no Serviço Público Municipal, com atuação na área de Patrimônio Cultural, Urbanismo e Ecologia, Rachel está aposentada. Atualmente se dedica à leitura, inclusive em grupo, de seus autores favoritos, sobretudo Marcel Proust, passando por Machado de Assis, Thomas Mann e Carlos Drummond de Andrade.
A escritora morreu anteontem (15/8), aos 96 anos. A notícia foi dada pelo professor, escritor e pesquisador Roberto Silva em suas redes sociais. A escritora completaria 97 anos em 18 de setembro. Publicou seu primeiro livro, “Os anos 40”, em 1973. Em seguida vieram “Cheiros e ruídos” (1975), “Vazio pleno” (1976), Inventário das cinzas” (1980), “A cristaleira invisível” (1982), “O penhoar chinês” (1985) e “Num reino à beira do rio” (2004).
Grande conhecedora das obras de Machado de Assis e de Marcel Proust, tanto nos livros do escritor carioca quanto nos do francês, Rachel extraiu subsídios para seu trabalho na preservação do patrimônio arquitetônico do Rio de Janeiro. Em meados dos anos 1960, Rachel Jardim foi superintendente do Museu de Arte Moderna do Rio (MAM).
Lembrando a autora e sua obra
Sobre seu livro “O penhoar chinês”, em sua quinta edição, disse:
“O reconhecimento de Juiz de Fora ao meu trabalho é uma das coisas que eu mais desejava. Posso dizer que agora, aposentada e aos quase 80 anos, “posso morrer tranquila.” Assim, a escritora juizforana Rachel Jardim fala da emoção de lançar a 5ª edição de O penhoar chinês, na segunda-feira, dia 30, às 20h, na Biblioteca Municipal Murilo Mendes, Avenida Getúlio Vargas 200.
O relançamento da obra, uma coedição da José Olympio Editora e da Prefeitura de Juiz de Fora, através da Diretoria de Política Social e Funalfa, integra as comemorações do aniversário da cidade, ao mesmo tempo que festeja os 20 anos da primeira edição do livro. A capa é uma criação da designer Ligia Lacerda a partir de uma fotografia das irmãs Surerus que pertence ao acervo do Museu Mariano Procópio.
Rachel conta que em O penhoar chinês aborda a temática da cidade, da mulher e o comportamento do homem típico dos anos 20. O Rio de Janeiro é cenário da história e Juiz de Fora é retratada como o nome fictício de Palmas e com seu nome real, Juiz de Fora. Ela explica que por ter trabalhado durante muitos anos com patrimônio cultural, urbanístico e histórico, a cidade lhe é um tema caro e fascinante. A Vila Elisa de Palmas a que se refere é uma criação inspirada na Vila Iracema, da Rua Espírito Santo; da casa dos Alves – o Castelinho da Rua Floriano Peixoto e a casa dos Mascarenhas, no estilo normando.
A narrativa foi elaborada a partir do relacionamento de mãe e filha e de um fato que realmente existiu: elas estavam sentadas na sala, com bastidor na mão e a mãe ensinava a filha a bordar. O pano de fundo do bordado era um penhoar chinês. O telefone tocou, a mãe largou o bastidor para atendê-lo e nunca terminou o bordado. A filha foi para o Rio de Janeiro, fez uma carreira brilhante como advogada e escritora e a mãe ficou em Palmas. Depois de alguns anos a filha retornou a Palmas para o sepultamento da mãe. A governanta lhe entregou uma carta escrita pela mãe, na qual revelava porque parou de bordar o penhoar. Ao lê-la a filha descobre que tem um irmão natural, fora do casamento, fruto do comportamento do pai, um homem típico da época. A filha acaba resgatando o relacionamento com este irmão, um arquiteto urbanista que estudou e residiu em Juiz de Fora e que anos mais tarde se tornou um profissional de destaque no Rio de Janeiro.
Rachel Jardim diz que considera a carta um dos momentos mais ricos do livro, que é dificílimo escrever uma carta de forma literária e que teve a preocupação de trabalhar este aspecto. Sobre o relacionamento da mãe e da filha acrescenta que, apesar de serem de gerações distintas, a mãe tem um germe de modernidade e o transmite à filha.
A importância da 5ª edição de O penhoar chinês Rachel Jardim credita de forma especial à Funalfa. “Durante muitos anos Juiz de Fora me deixou na sombra. Mas, nos últimos anos, a Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage tem reeditado escritores juizforanos – Murilo Mendes, Pedro Nava, entre outros. Na comemoração do centenário de nascimento de Pedro Nava, que morou muitos anos no Rio de Janeiro, Juiz de Fora promoveu atividades fantásticas e o Rio não fez absolutamente nada. O resgate do trabalho de escritores juizforanos é de extrema importância, especialmente se considerarmos que o escritor brasileiro que não produz um livro por ano não é reeditado. Certa vez me convidaram para entrar na Academia Brasileira de Letras e pediram para eu escrever um livro novo. Às vezes o autor produz livros novos para poder ser editado, mas nem sempre essas obras são significativas. Considero O penhoar chinês um livro de valor e que não teria nova edição não fosse esta junção da Funalfa e da José Olympio Editora. A articulação da Fundação para esta reedição é extremamente louvável.”
Nessa edição de Navegos, os colunistas e seções (clique nos nomes para ir direto ao artigo): Alexsandro Alves, Da Redação com o tiroteio na tabacaria em Petrópolis e Estado de São Paulo, Diário de Cuba e Calle del Orco. Desfrutem.