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A multicriativa Valquíria Rodrigues

Colaborador de Navegos escreve sobre uma artesã de múltiplos talentos, nascida e criada em Nova Esperança, nos taboleiros do Assú

*Pedro Henrique Farias

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Em 19 de março, se comemora o dia do artesão, uma data que foi oficializada no calendário nacional em homenagem à São José, um santo cristão que era carpinteiro. Como esperado pelo sertanejo, de acordo com a sabedoria popular, quando chove no dia de São José o ano é farto e com um bom inverno. Pois é, choveu hoje e as esperanças para o ano de 2022 foram renovadas e parece, ainda, que os artesãos contam com as bençãos de São José. Também hoje, no parque Cidade da Criança, localizado no Tirol, na capital potiguar, foi inaugurado um importante instrumento e política de Estado para o fortalecimento, valorização do trabalho e geração de renda para o setor do artesanato, fruto das reivindicações da categoria, que se trata do Centro de Referência do Artesanato (CRARN). Além dele, segundo os secretários de Estado presentes no evento, a Casa do Artesão do Seridó também será inaugurada ainda esse ano, e também servirá como referência e suporte para a categoria.

O sentimento, na verdade, é de esperança, de que essas políticas alcancem todos os artesãos e as artesãs de todos os territórios do Rio Grande do Norte, de modo que esse trabalho seja valorizado como propulsor da cultura local e como guardião das memórias do nosso povo, e que gere renda para esses artesãos e artesãs. Mas, nesse dia, gostaria, em verdade, de fazer uma homenagem a Valquíria Rodrigues, uma grande e talentosa artesã varzeana, que é uma querida amiga de infância, e está presente em minhas mais tenras memórias afetivas. Lembro-me muito bem, por exemplo, da enchente de 2008, quando as águas do rio Piranhas-açu lavaram todo o Vale e chegaram quase ao quintal da casa dos pais de Valquíria em Nova Esperança. Naquele ano seu Josa, agricultor, havia colhido milhos e, na época de São João, sentávamos à calçada daquela casa de taipa, uma das remanescentes após políticas municipais de habitação, e comíamos milho assado na fogueira, pamonha, canjica e outras iguarias. Eu, criança, já notava a dedicação que Valquíria despendia em aprender crochê, sempre muito cuidadosa com suas linhas e agulhas, que ao longo desses anos continuou se dedicando e aprendendo, principalmente via cursos online, e hoje desenvolve um belíssimo trabalho que comercializa principalmente nas comunidades de Nova Esperança, Panon I e II, na zona rural do Assú.

Valquíria hoje tem 40 anos de idade, nascida e criada em Nova Esperança, mas, atualmente reside com seu esposo no Panon II. É filha do finado Josa e de Dona Maria de Otília, avós de meu amigo de infância Rodolfo, que nos deixou precocemente no dia 08 de março de 2021. A arte de Valquíria é feita em crochê, e nesses fios ela nos apresenta lindos bicos de panos de pratos e toalhas de banho, puxadores de geladeira, porta panos de pratos, peças de roupas, biquínis, e tudo mais que a sua criatividade inventar. A exemplo da realidade de outras artesãs no estado que infelizmente vivenciam uma dura realidade de desvalorização, Valquíria não consegue viver somente de seu trabalho com o artesanato, o que o faz como complemento de sua renda. Mesmo assim, ela continua resistindo e tem aumentado sua produção nos últimos cinco anos e as divulga em sua página no Instagram @valquiriarodrigues271.

Vida longa à arte de Valquíria!