*Carlos Roberto de Miranda Gomes
Em leitura recente do livro Natal do Futuro, escrito por Arthur Dutra, por sinal meu ex-aluno, que me presenteou com um afetuoso autógrafo, registrei sua inteligente invocação do escritor potiguar consagrado desde o início do século passado Manoel Dantas, o qual proporcionou, no distante ano de 1909, o vaticínio de Natal dali a cinquenta anos (um dos anexos do livro em comento).
Desde logo oferto a minha concordância com a diretriz preconizada: Precisamos reforçar esse traço da nossa personalidade coletiva e agregar ao presente as coisas boas que nossa memória urbana, social, política etc., podem nos proporcionar.
Quais seriam os melhores caminhos? Ficou dito, entre as duas obras referidas: velar pelas nossas praças – verdadeiros pulmões da cidade; cultuar nossas artes e artistas; conservar o nosso patrimônio material e imaterial; recuperar nos rios e lagoas, da poluição que sofrem pela irresponsabilidade dos moradores comodistas, nativos e novos ricos na ocupação do solo de forma inadequada, permitindo a nefasta transformação de Selva de Pedra; incentivar a tecnologia em todos os seguimentos da vida urbana, para tornar a vida com melhor qualidade de vida.
Deixando de lado os campos da teoria e da ideologia improdutivas, vamos direto a um desses graves problemas: salvar os nossos rios, a exemplo, pelo menos agora, do nosso romântico Potengi e o Rio Doce (Redinha), verdadeiras potencialidades para o turismo, economia, comunicação e paisagística, a exemplo do Tâmisa, Reno e Tejo.
Em particular o Rio Doce, da minha infância já remota, o qual conheci puro, virgem, hoje um esgoto motivado pela incúria do poder público e descaso dos moradores ribeirinhos, quando se admite construções de conjuntos, demagogicamente com alarde social, mas nefastos por não terem proporcionado a infraestrutura essencial para um equilíbrio ecológico.
A Revista NAVEGOS, de responsabilidade do jornalista e escritor Franklin Jorge, opportuno tempore, publicou uma reportagem sobre o desastre do Rio Doce, sob o título “Agonia de um rio”, com imagens do consagrado fotógrafo Canindé Soares, retratando esse rio que habita a memória afetiva de milhares de potiguares.
Seguindo essa diretriz, denuncio, agora o perigo, pelo mesmo descaso, quanto a conservação das falésias, a teor das de Tibau do Sul, Baía Formosa, Cotovelo (onde moro), para que não se repitam as tragédias de Pipa e de Capitólio.
Em meu pensar, cabe aos governos municipais regulamentarem as áreas non edificandi, o regramento do solo urbano através dos seus Planos Diretores, ultimação dos planos do sistema de esgoto, como é exemplo o complexo dos distritos de Pirangi, Pium e Cotovelo, com os canos enterrados há anos, mas com funcionamento discriminatório, beneficiando apenas alguns empreendimentos, em detrimento das comunidades que permanentemente dão vida à região.
Todos são cidadãos com os mesmos direitos. Este é o momento de começarem logo a agir – Prefeituras, Ministério Público, Ibama, Idema … senão a natureza muito em breve nos cobrará!
Fotos [reprodução]: Falésia [em Destaque] e o PM Hugo Pereira, Stella Souza, sua mulher e o filho do casal, de sete meses, que perderam a vida. O cachorro do casal também morreu soterrado.