*Francisco Alexsandro Soares Alves
Moscou, 12 de agosto de 1952. O homem de aço, Josef Stálin, está taciturno. Nos calabouços do Edifício Lubianka, 13 judeus, poetas, membros do Comitê Antifascista Judaico, sofrem torturas desde que foram presos, entre 1948 e 1949. Foram presos por traição, espionagem, “cosmopolitismo burguês” e por escreverem poemas contra o povo soviético. As torturas incluíam banhos gelados, cabo de guerra, açoites, inanição, ameaças. Eles poderiam terem sido mortos no primeiro dia de captura, porém Stálin desejava sentir os olhares de dor e desespero de suas vítimas. Isso o fortalecia. Não deveria haver pressa.
Stálin procurava, detidamente, por imagens que o inspirasse para as torturas. E as buscava na própria poesia dos condenados. Certa noite, estava lendo o poeta Leib Kvitko, preso desde 1948: “Como está agora o coração do mundo / e sua ferida purulenta / Pergunta a uma criança / Pergunta a uma criança judia”.
No dia seguinte, dirigiu-se à Praça de Lubianka. Edifício Lubianka, sede da KGB. Foi às masmorras. Antes, entrou em uma das salas, segurou firme e puxou uma criança pelos braços, uma criança judia. Stálin sentia nojo dos judeus. Sempre sentiu, desde antes de 1917. Durante os primeiros anos da revolução, escreveu panfletos e artigos em que divide o Partido Bolchevique entre os verdadeiros russos e os judeus sem nação. Conversou com o poeta Kvitko. A conversa durou alguns minutos. Ao iniciar a leitura do poema de Kivtko, soldados surgiram carregando uma criança amordaçada. A criança judia que Stálin puxou no caminho, agora era a criança do poema de Kvitko. Naquele dia, a mãe Rússia chorou por uma criança que nunca mais encontraria. Ela havia sido capturada enquanto dormia, em uma choupana de uma vila de judeus pobres de Moscou.
Juntos, os gritos do poeta e da criança eram aterradores. Os soldados, calados, enquanto Stálin, mais embrutecido do que nunca, berrava de ódio a poesia de Kvitko.
À noite, o poeta Kvitko e os outros 12 poetas foram, por fim, assassinados pelo comunismo. A chacina ficou conhecida como “A Noite dos Poetas Assassinados”. Todos eles, os mais proeminentes poetas judeus da URSS. Esse acontecimento faz parte das políticas antissemitas socialistas impostas por Stálin. O curioso é que milhões de judeus foram mortos pelo comunismo, mas ninguém fala em “holocausto”, inclusive na Polônia soviética. O ódio e a aversão da URSS stalinista contra os judeus foram tão piores ou maiores do que os da Alemanha nazista, mas ninguém fala em “holocausto”. Por que será?
Quando Stálin morreu, investigações concluíram que os 13 poetas eram inocentes. Sempre foram. Sempre souberam, inclusive Stálin. No máximo, sua poesia era burguesa e cosmopolita, judaica. Porém, não foram traidores ou espiões. Foram apenas poetas.
E como poetas foram assassinados. As últimas palavras do poeta Kvitko foram direcionadas àquela criança. 13 poetas e uma criança foram assassinados, em uma noite que durou décadas. A Noite dos Poetas Assassinados.