*Da Redação
De vez em quando recebemos colaborações dessa natureza, sem sabermos a procedência, alguns, no entanto, de grande relevância e pertinência como instrumentos de conhecimento. Quem o escreveu devia manifestar-se, pois é de gente assim que precisamos para engrandecer nossa cultura, depauperada por quem não tem o que fazer.
Leiamo-lo:
Quando pensamos no ensinar filosofia, às vezes nos prendemos tão somente ao conteúdo que iremos ministrar. Mas antes de chegarmos ao ensinar filosofia devemos passar por um estágio que pensamos ser primordial. É preciso, antes de tudo aprendermos como deveremos ensinar filosofia.
Isso também, levando-se em conta, as características individuais, daqueles que serão o alvo deste ensino.
Entendemos o ensinar como um processo de mão dupla. Ensinar significa, antes de tudo uma possibilidade de aprender. Faz-se necessário àqueles que almejam a árdua missão de ensinar uma grande disposição para um aprender contínuo. Buscar novas formas de passar o conteúdo sem se prender demasiadamente nos modelos de ensino vigentes.
Não sabemos até que ponto este ensino onde o professor fala e o aluno apenas escuta seja proveitoso. É de grande importância, encontrar maneiras alternativas para que o ensinar e o aprender sejam um processo mais dinâmico e participativo. Ensinar é mais difícil do que aprender porque ensinar quer dizer fazer aprender. Ensinar deve ser entendido como fazer pensar, e não como é geralmente visto, apenas a perpetuação de um determinado conhecimento.
Não consideramos válido que a filosofia ocupe espaços dentro e fora das escolas, importa, fundamentalmente, compreender o que ela faz nesses espaços, o tipo de filosofia que se pratica (e ensina), sua relação com outras áreas do saber, com a instituição escolar e as outras instituições da vida econômico-social e política do país. Convém, especificamente, considerar a relação que professores e alunos envolvidos com a filosofia estabelecem entre si e com ela. Importa, antes de tudo, o tipo de pensamento que se afirma e se promove sob o nome de filosofia.
A utilização das aulas da disciplina Filosofia para tratar de temas como amor, liberdade, felicidade, entre outros. Não é de todo mau. De certo esses são temas filosóficos já que dizem respeito ao homem e a sua relação consigo mesmo e com o outro dentro da sociedade. O que não podemos permitir que venha a ocorrer é a banalização da filosofia provocada por uma má utilização de instrumentos metodológicos que a priori poderiam ser considerados indispensáveis mais sendo usados de maneira equivocada tornam-se uma faca de dois gumes.
A utilização de instrumentos que tornem essa transmissão de conhecimento mais eficaz é sempre bem vinda; um filme, uma encenação teatral, ou mesmo uma letra de música usados com responsabilidade e de forma objetiva alcançam resultados expressivos dentro do processo de ensino-aprendizagem. É pensando nisso que elaboramos esse trabalho de pesquisa sobre a importância da poesia dentro da escola como um importante instrumento facilitador do processo ensino aprendizagem.
A poesia não consiste apenas num estilo literário, ou mesmo em uma forma que as pessoas utilizam para dar mais gracejo e beleza ao texto. É sim, um importante instrumento de fortalecimento da identidade sócio-cultural de um povo. Importante no sentido que por ser um texto de fácil leitura, é uma porta de acesso em direção ao processo de transmissão de conhecimento.
No período medieval era através da poesia que se transmitiam as notícias referentes aos fatos cotidianos. Os jornais da época utilizavam da poesia para a transmissão dessas notícias. Assim as notícias se espalhassem mais ligeiro, abrangendo um grande número de pessoas.
Esses textos poéticos eram escritos em formas de livretos e pendurados em cordões para facilitar o momento da comercialização, daí surgiu o nome cordel. E foi nesse sentido que a literatura de cordel chegou ao Brasil através dos espanhóis e portugueses.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam; a poesia não fala somente de sonhos fantasiosos, de mentiras, de romances e causos inventados pelo imaginário popular. A poesia serve também para contestar o que entendemos está errado e lutarmos por melhorias.
Foi à produção poética de Bertolt Brecht que o conduziu a sua bem estruturada elaboração de um teatro construtivista, que levava o povo a pensar e se fortalecer moralmente para lutar por melhoras em sua vida. A poesia não é somente a voz enamorada que surgi do coração do poeta, ela também consiste na voz racional e reflexiva que saí de sua mente.
O poeta disse: “Livros não mudam o mundo, pessoas que mudam o mundo, os livros apenas mudam as pessoas.” A voz que nesse momento saiu do poeta será que em algum momento transmite um suspiro romântico, ou na verdade ela transfere um pensar reflexivo?
A ação transformadora que existe no texto poético é resultante desse pensar reflexivo. Foi através da poesia que Castro Alves libertou a sua “Vozes d´África” e conduziu milhares de almas africanas e afro-descendentes sofridos com o “Navio negreiro” rumo à liberdade. Liberdade está conseguida de forma parcial com a abolição da escravatura.
Foi através da poesia que João Cabral de Melo Neto, levou a sociedade brasileira a refletir sobre a vida sofrida do homem retirante, homens nordestinos que cansados de sofrer com as perdas provocadas por intensos períodos de seca migravam para outras regiões em busca de melhorias pra sua vida e sua família. Morte e Vida Severina, sua obra mais citada, é um verdadeiro roteiro sobre a peregrinação desse homem do campo que apesar de todos os pesares mantém viva a chama da esperança de um dia as coisas melhorarem. È essa chama acessa que faz com que o Homem esteja sempre lutando em busca de seus objetivos
A poesia é uma dessas ferramentas usada pelo Homem em seu processo de construção de sua história, de sua identidade sócio-cultural. Foi através da poesia contida em suas músicas que um movimento musical brasileiro conhecido como tropicália levou uma geração inteira a refletir e soltar o grito que sufocava preso na garganta devido a um regime político militar autoritário e repressivo. “Apesar de você amanha há de ser outro, ainda pago pra vê o jardim florescer, qual você não queria…” através de suas canções de beleza poética incontestáveis transmitiam sua mensagem repleta de protesto e indignação frente à situação crítica que o país atravessava.
Até esse momento falei sobre o importante papel da poesia na construção histórica do Homem, mas não podemos falar dessa construção de uma história da humanidade, de seu desenvolvimento político e sócio-econômico sem nos retratarmos ao processo educacional. È através da educação que se dar esse desenvolvimento. Não uma educação bancária como aquela criticada por Paulo Freire onde apenas o aluno ficava sentado no banco e, recebia as informações vinda do professor num processo de transmissão e perpetuação de um conhecimento dado nos livros.
È a partir de um pensamento crítico reflexivo que o homem começa a pesar suas decisões e se decidi para a tomada dos próximos passos que o levam a ir adiante e conquistar o progresso. Eu penso como necessário á reflexão que a poesia nos trás em sua linguagem refinada e ao mesmo tempo simples uma contribuição importante e instrumento facilitador do processo reflexivo exigido dentro desse processo de construção de conhecimento.
O homem está em todo momento buscando formas para fazer-se entender, ele abre mão de uma linguagem mais racional em favor dessa linguagem mais emotiva. E ele faz isso de forma quase instintiva.
Podemos sim, refletir sobre a origem da vida, a liberdade, o belo e o feio, o poder, a sociedade e o Estado através da observação de uma obra de arte, de uma escultura de Bernini, de um quadro de Van Gogh ou da Vinci, de uma poesia de Antônio Francisco, Camões ou Patativa do Assaré. A poesia rompe barreiras, entra com facilidade onde seria mais complicado o acesso de uma linguagem rebuscada e pedante de um sistema filosófico ou mesmo de uma teoria pedagógica como o Ambientalismo de Skinner.
A poesia que tanto contribuiu e até hoje contribui para a formação política e social da humanidade não pode ser deixada de fora desse processo de construção de uma educação formal. A poesia pode ser usada na aula de história pra falar dos movimentos importantes da construção da identidade nacional, pode ser usada dentro de uma aula de geografia de matemática ou mesmo dentro de uma aula de filosofia.
É impossível a leitura de Augusto do Anjos, o poeta de uma única obra “Eu”, sem perceber nele um tratado estético filosófico acerca do feio e do belo, a poesia de Augusto dos Anjos está repleta de filosofia. Ela nos leva a um pensar reflexivo e a tomarmos posicionamento diante das intempéries causadas pelo acaso ou mesmo destino, já que há os que creem no determinismo.
Como graduado em Filosofia e educador que buscamos mostra essas possibilidades de utilização da poesia dentro do espaço escolar na construção de um pensar reflexivo e de um desenvolvimento sócio-cultural fortalecido. A busca de respostas que é uma necessidade do ser humano poderá vim tanto através da poesia como de demais formas de manifestação artísticas que despertam o interesse do homem á linguagem simbólica. Tanto o ensino de filosofia -que será meu campo de atuação como outros ramos do conhecimento -, terão a ganhar com essa possibilidade de uso das artes em gerais e da poesia de forma especial dentro desse processo de ensino-aprendizagem.