Adalgisa Assunção
A política do pão e circo criada pelos antigos romanos, que previa o provimento de comida e diversão ao povo, tinha o intuito de reduzir os índices de insatisfação popular contra a ação dos governantes e parece estar mais atual do que se imagina.
O pão, na atualidade, não vem sendo distribuído no Rio Grande do Norte, mas o circo fica a critério da criatividade de cada governante em seu Município. Para prover o pão, a governadora do Estado, Fátima Bezerra e o prefeito da Cidade do Natal, Álvaro Dias, esqueceram de que os servidores também são filhos de Deus, pagam contas e têm famílias para sustentar.
Os dois bonitinhos de Hollywood simplesmente “esqueceram” de pagar salários e décimo terceiro na data correta, deixando as famílias dos servidores sem a tradicional ceia natalina, costume que se arrasta entre a população há vários séculos. O mais curioso é ver que do Ministério Público, bem como a Câmara Municipal e a Assembleia Legislativa não se ouve um único ruído em favor dos servidores.
Também é curioso perceber que no município de Natal, não faltou dinheiro para bancar o circo, que o prefeito ofereceu às pampas, pelos quatro cantos de Natal e para agradar a todos os gostos, durante os festejos natalinos. Valendo-se da desculpa de que a Cidade do Natal completa 420 anos de fundação, ele ofereceu um mês de festividades à população.
Durante todo o mês de dezembro, o povo potiguar se esbaldou assistindo aos shows de vários cantores nacionais e locais. Entre os cantores nacionais, o potiguar viu cantores como Ney Matogrosso, Simone, Alceu Valença e Zezé de Camargo, entre outros, cujas apresentações são cobradas a peso de ouro.
As apresentações foram abertas com a prata da casa, o que na minha opinião de cidadã pagadora de impostos, deveriam ter sido as estrelas absolutas das apresentações, uma vez que nada ficam a dever a outros artistas. E sem contar que desse modo, os parcos recursos dos potiguares ficariam aqui mesmo.
Causa admiração e estranheza ouvir a classe política potiguar se referir ao RN como um Estado pobre e carente recursos. Porém na hora de oferecer circo ao povo, toda esta pobreza e carência desaparecem como num passe de mágica. O pior é ver que todo a verba gasta, vai embora Estado enchendo os bolsos de artistas forasteiros. Não dá para entender as razões pelas quais este dinheiro não permanece na nossa terra estimulando nossa economia. Onde estão nossos nobres representantes, que não se posicionam contra essa sangria?
Nada contra o Natal em Natal. Mas penso que a Prefeitura Municipal da Cidade do Natal poderia promover uma festa natalina de grandes proporções, mas sem penalizar os servidores municipais. Por causa desse circo, os servidores ficaram sem receber o salário e 13º em dia, professores continuam com salários atrasados e o pior: o valor do IPTU/2020 sofreu um aumento considerável, para que o prefeito possa anestesiar a consciência do povo e anunciar sua recondução à cadeira de prefeito.
O circo armado pela Prefeitura do Natal parece ter um poder embriagador, de forma que a população acaba deixando de perceber alguns detalhes, como a iluminação que foi reforçada para a apresentação do Natal em Natal. Em cada um dos locais escolhidos como polo de apresentação, a prefeitura teve o cuidado de colocar uma iluminação especial, com o objetivo de dar maior visibilidade e segurança ao povo.
Enquanto isso, a Cidade possui uma infinidade de ruas sem iluminação, colocando em risco a vida do cidadão pagador de impostos. Vários pontos comerciais fecham mais cedo, por causa da falta de iluminação em suas ruas, o que contribui para os roubos, assaltos e consumo de drogas.
Portanto, diante desta política de circo sem pão, eu fico me perguntando se no momento em que a Cidade do natal completa 420 anos, nós temos alguma coisa a comemorar?
Adalgisa Assunção – Pedagoga • Poetisa.