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 A República que não temos  

Articulista  paranaense, graduado em História, professor e radialista, desenvolve a ideia da impossibilidade de hoje no Brasil pudermos afirmar a coerência entre credibilidade e veracidade, em uma república das bananeiras jurídicas. 

Dartagnan Zanela

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Há momentos que devemos falar, e falar em alto e bom tom, do alto do telhado da nossa morada, para que todos possam ouvir nossa voz. Esses momentos são aqueles quando a verdade não mais encontra morada no coração dos homens e, por isso, torna-se urgente proclamá-la.

Porém, o grande problema é que toda vez que alguém ousa anunciar a verdade, que muitos querem amordaçar e largar num bueiro qualquer, é que todos aqueles que tomam a decisão de realizar essa tarefa, o fazem imaginando que estão na praça da república de Platão, esquecendo-se que estão na latrina aberta por Deodoro da Fonseca e seus “Blue Cat’s”.

Por essa e outras que dizer a verdade é sempre um problema.

Sobre isso, podemos fazer inúmeras considerações, porém, gostaria apenas de chamar a atenção para um ponto, que é a diferença que há entre credibilidade e veracidade. Diferença essa que, muitas e muitas vezes, desdenhamos.

Algo que tem credibilidade é tão só e simplesmente um trem que as pessoas, de um modo geral, creem que seja digno de confiança, mesmo que seja uma tremenda mentira. Já a veracidade é quando algo, dito por alguém, corresponde aos fatos, pouco importando se as pessoas dão credibilidade ao que está sendo dito ou não.

E é aí que a porca torce o rabo, e torce desavergonhadamente, porque, muitas e muitas vezes, nós não procuramos distinguir uma coisa da outra, porque não estamos, de fato, preocupados em saber qual é a verdade sobre incontáveis assuntos e, não queremos saber, porque desejamos apenas ter a tal da razão que, no frigir dos ovos, nada mais seria que a “vitória” sobre alguém num bate-boca, deixando-o momentaneamente sem palavras, pouco importando se o outro está com a verdade ou não.

Não é à toa que o debate público acabe sempre enveredando por um caminho que acaba desembocando em uma choldra ignóbil, tendo em vista que, feliz ou infelizmente, nós não somos cidadãos da república platônica, mas apenas e tão somente sujeitos que vivem atônitos na latrina política aberta por Deodoro e companhia.