*Shoshannah Brombacher
Um jovem mercador arrogante e rico foi certa vez foi visitar o grande mestre chassídico, Rabi Israel Baal Shem Tov.
As pessoas que buscavam uma audiência com o Baal Shem Tov geralmente pediam orientação em seu serviço ao Criador, ou conselhos e bênçãos em seus assuntos materiais. Porém o visitante não perdeu tempo e explicou que não tinha necessidades especiais ou problemas em particular que exigissem qualquer intervenção ou bênção. De fato, um negócio bastante lucrativo o tinha levado até uma cidade próxima, e como era tão perto, tendo ouvido tantas histórias fantasiosas sobre o mestre chassídico, sua curiosidade o levara a ver por si mesmo aquilo de que tanto se falava.
“Bem”, disse o Baal Shem Tov, “se não há nada em que você ache que eu possa ajudá-lo, talvez você queira ficar por algum tempo e ouvir uma história?”
O homem concordou e assim, o Baal Shem Tov começou:
“Era uma vez dois amigos de infância que eram inseparáveis enquanto cresciam juntos. Porém, quando se tornaram adultos, seus caminhos se separaram. Um tornou-se rico e o outro era muito pobre. A fim de salvar a família da fome, o pobre procurou o amigo de infância e pediu ajuda ao homem rico. Este não hesitou: “Não prometemos sempre que continuaríamos amigos eternos e dividiríamos tudo que temos?” lembrou ele ao amigo, oferecendo-lhe metade da sua fortuna.
“Como acontece freqüentemente com o passar do tempo, as rodas da fortuna se inverteram, e aquele que certa vez fora rico agora estava muito pobre, ao passo que o amigo a quem ele tinha dado metade da sua fortuna se tornara bastante rico. Confiante que agora receberia ajuda recíproca daquele amigo, o pobre procurou-o e explicou sua situação. Mas em vez de ajudá-lo. o homem com a recém-adquirida fortuna recusou-se a partilhar qualquer coisa.
“Mais uma vez houve uma reversão da sorte, portanto o pobre tornou-se rico e o rico ficou pobre, e cada um deles voltou à situação original. Ora, aconteceu novamente que aquele que antes se recusara a partilhar qualquer porção de sua riqueza começou a sentir o desespero do empobrecimento, e foi implorar perdão ao amigo. O homem que agora estava rico perdoou prontamente seu antigo amigo de infância, mas dessa vez insistiu para que o amigo lhe desse um acordo escrito de que caso ele precisasse novamente, o amigo partilharia suas bênçãos com ele.
“Bem, no decorrer do tempo os dois homens tiveram novamente revertérios de sorte. Mas, fiel ao seu estilo, o homem que tinha assinado o acordo recusou-se a honrá-lo, e seu amigo com a família se viram sem teto e sem um centavo.
“Passaram-se os anos. Os dois homens morreram. Quando chegaram perante a Corte Celestial para prestar conta de suas vidas, o pão-durismo do homem egoísta pesou bastante contra ele, e foi condenado ao castigo, enquanto o amigo bondoso e compassivo recebeu a eterna recompensa do paraíso. No entanto, o bom amigo não podia aceitar o destino da alma de seu ex-companheiro, e suplicou à Corte Celestial que, apesar da maneira egoísta e vergonhosa pela qual o amigo o tratara repetidas vezes, mesmo assim o amava e não queria vê-lo sofrer por sua causa.
“O Tribunal Celestial ficou em polvorosa,” continuou o Baal Shem Tov a relatar.
“Este era certamente um caso bastante incomum! Foi decidido que a única maneira de resolver este problema era mandar os dois de volta à terra, para que o pecador tivesse uma última oportunidade de expiar seu comportamento egoísta. E assim, o homem pecador voltou como um rico mercador orgulhoso, enquanto o outro retornou como um mendigo das ruas.
“Ocorre que, um dia, o justo mendigo bateu à porta do homem rico implorando por comida. Ele não comia há muito tempo e estava literalmente à beira da inanição. Mas foi mandado embora rudemente e com grosseria. E assim, o mendigo morreu…”
A essa altura da história, o homem rico, com lágrimas rolando pela face e um nó na garganta, mal conseguia falar. “Sim… ontem… ontem mandei um mendigo embora da minha porta… Depois eu soube que o mendigo foi encontrado morto na rua. Era… era este o mendigo da sua história?”
Nenhuma resposta foi necessária. Mas agora as lágrimas estavam rolando livremente, O homem foi dominado pelo remorso e arrependimento. Estava desesperadamente ansioso para saber como e o quê poderia fazer para reparar aquela vergonha.
O Baal Shem Tov explicou que seu antigo amigo, o mendigo, tinha uma viúva e filhos órfãos, e que ele deveria dar a eles três quartos de sua fortuna para expiar seu pecado.