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A rua de nome mais antigo

Em sua caminhada por Natal, o cronista da cidade revela aos leitores peculiaridades sugestivas que engrandecem a nossa história, graças à permissão de sua neta e diretora do Ludovicus, Daliana Cascudo Roberti Leite, que nos permitiu sua reprodução

*Luís da Câmara Cascudo

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A primeira rua que houve em Natal foi a Rua Grande. Que em 1888 recebeu o nome de André de Albuquerque, chefe da Revolução de 1817.

Seguia-se a Rua Santo Antônio. Com este baismo em 1763. Em 1888 a Câmara Municipal denominou a Rua Coronel José Bonifácio, porque o Coronel Bonifácio Francisco Pinheiro da Câmara aí residira e falecera, quatro anos antes.

Em 1941 o Prefeito de Natal, atendendo às solicitações tradicionalistas, fez voltar o velho nome de Rua Santo Antônio. Passou o Coronel Bonifácio para a Rua Senador José Bonifácio, na Ribeira.

A última rua velha que resistiu em sua denominação antiquíssima foi a Rua do Camboim, na capoeira da Solidão, caminho do Tirol. Em 1948 ficou sendo Rua Professor Fontes Galvão.

Na Ribeira já não há nome velho. Todos foram mudados nos últimos anos do século XlX e ao correr deste XX. Os demais bairros são de criação recente e de nomenclatura nova.

A rua de nome mais antigo na cidade do Natal é a Rua de São Tomé. Conta, no mínimo, duzentos e quarenta e três anos.

Frei Claude d´Abbeville na sua História da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão, impressa em 1614, Paris, informa que o Apóstolo São Tomé andou pelo Nordeste, “deixando as marcas de seus pés cravadas com cruzes no rochedo próximo de Potitiú”. Este Potitiú é o rio Potengi e o rochedo era uma pedra com sinais que lembravam vagamente pegadas e que existiam na colina, próxima à Praça Augusto Severo, em Natal. Corresponde ao alto por onde passa a Rua Juvino Barreto. A Rua São Tome começa na Juvino Barreto e termina na Correia Teles.

Nesta pedra havia uma fonte d´água que abasteceu, durante séculos, parte da população da Ribeira.

Em 1716 registram-se datas de terras na Tapera de Maria de São Tomé e mais minuciosamente na doação, passada em 2 de outubro de 1765, a Maria Ferreira: “entre as casas que foram do licenciado Manoel Pinto de Castro (pai do Padre Miguelinho) no caminho da Ribeira e uma “Cacimba quexa mão de São Tomé”.

Nos derradeiros anos do século XlX, o industrial Juvino Barreto murou uma grande propriedade3, tomando o acesso a Ribeira e a Cidade em parte, e a Cacimba de São Tomé ficou dentro da chácara. O Padre João Maria muitas vez\es carregará água desta cacimba para os doentes de bexigas. Mas, lealmente, Juvino Barreto mandou abrir outra cacimba para serventia pública, na parte mais baixa da ladeira. Esta veio aos nossos dias e desapareceu, aterrada.

Desta forma a cacimba deu nome à Rua de São Tomé, que alguns natalenses deram para chamar de Quartel da Linha. A Câmara Municipal em fevereiro de 1888 fixou o nome: Rua de São Tomé, como era, há tantíssimo tempo, conhecida e denominada.

Rua pequenina, humilde, e semi-abandonada, não despertava inveja e o nome permaneceu. Agora está refeita, clara e sugestiva, com casas bonitas. O nome lindo continuou no uso e na memória dos natalenses.

Nossa Senhora da Apresentação, nossa padroeira, a conserve por longos anos…

A República, 16 de abril de 1959.