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A saga do moleque Kino

As aventuras do gato Kino, um moleque de quatro patas, conforme relatadas pelo seu humano de estimação Alexsandro Alves.

*Alexsandro Alves

[email protected]

 

I. A origem

Kino é um adorável gatinho preto e branco que me foi entregue em minha casa em agosto de 2021. Além da sua mãe felina, Kino possui outras três, todas humanas. Sabrina cuidava dele com muita atenção, mas a maldade sempre aparece nos pequenos instantes de esquecimento ou de folga, e a vida de Kino (que enquanto estava com Sabrina não tinha esse nome), corria perigo: os vizinhos procuravam matá-lo.

Sabrina entrou em contato com a segunda mãe do bichano, Dulce. Numa manhã, ela me ligou perguntando se eu não poderia ficar com um gato que estava correndo risco de vida. Disse que poderia. Então, Dulce contatou a terceira mãe do felino, Marisa,  e assim, as duas vieram deixar o gato aqui em casa.

Eu não sei como isso ocorre, mas eu acho que os gatos sabem onde estão, onde é sua casa dali para frente. No primeiro dia aqui em casa, ele fugiu. Fiquei preocupado, como iria dizer isso para Dulce? Mas algumas horas depois, ele retorna. Então, ele volta!, pensei, ele sabe que aqui é sua casa agora. Abaixo, um vídeo de Kino e o cachorro Lupi, de dezembro de 2021, antes da fatalidade!

 

II. O nome

Batizei o tigre de jardim de Kino. Geralmente eu gosto de por nomes simples nos meus gatos. Nomes de duas sílabas, e algumas vezes, duas sílabas iguais. Raramente ponho nomes de três sílabas. Nomes japoneses ou indígenas são muito bons porque são vocálicos. Nomes alemães não são, na minha opinião, muito adequados.

E pus o nome do gato Kino. Mas esqueci o porquê!

Então, comecei a procurar o significado do nome e não o encontrava. Foi uma tarde inteira e, não encontrando, pensei: como eu pus um nome sem saber o significado? É impossível!

Meu gato Maru, seu nome significa gordo, em japonês. Seu irmão se chama Shimaru, introvertido, em japonês; Mei é procurada em chinês (ou em algum dialeto chinês), Shinshin, princesinha, também em chinês. Ora, de onde tirei Kino?

 

III. A descoberta

Já havia desistido. Passaram muitos meses e eu já havia esquecido, mas ainda assim, quando via o gato na minha frente, novamente me assombrava o mistério de seu nome. E de novo eu ia procurar entre nomes orientais e indígenas e não encontrava. E dizia: eu nuca saberei o significado de seu nome!.

Numa tarde dessas bem preguiçosas, bem vadias, felinas, mesmo, visito um site na Internet: o site do Festival de Bayreuth. Sempre que vou lá, ponho a página em inglês. E havia um item na primeira página: Wagner in cine. E, do nada, uma vontade de colocar a página na língua original em alemão. Nunca antes havia posto essa página nessa língua, embora seja seu idioma de origem.

Por fim, cedo. E então, Wagner in cine torna-se Wagner im Kino!

Inacreditável. Três vezes inacreditável.

Primeiro, como eu esqueci disso?; segundo, que palavra adoravelmente simples!; e terceiro, o nome do gato significa cinema.

E sua aventura maior estava para começar.

 

IV. A tragédia

Como mencionei, Kino saía e voltava para casa na mesma noite.

Porém, em 27 de dezembro de 2021, Kino sai e não volta. Pensei: pela manhã, ele estará aqui, no batente da porta esperando.

Mas não.

Ao constatar sua ausência pela manhã, sou tomado de grande tristeza. Porque eu senti. Pode parecer inexplicável, mas eu senti. Quando Kino, na noite anterior, retornou para casa, Lupi saltou em sua frente fazendo com que Kino retornasse para a rua. Eu fui tomado pelo pensamento: vá e busque ele!, mas estava tão cansado que disse: pela manhã, ele estará aqui, no batente da porta esperando! Afinal, ele sempre retornou para casa.

Na manhã do dia 28, permaneci atormentado – e como dizer para Dulce? E como Dulce iria dizer para Sabrina? Como sempre ocorria, Dulce me ligou.

Ai, Alex, cadê Kino? Bote ele ai, quero vê-lo!

Ah, Dulce, ele está dormindo agora! Vamos falar de outro assunto!

O Ano-novo foi sem Kino. E com muitos arrodeios e desculpas para não mostrar Kino para Dulce.

Na primeira semana do ano novo de 2022, intensifico as buscas noturnas. Nada.

Numa noite de 05 de janeiro, escuto um miado vindo da casa do vizinho que reconheço como o de Kino! Eram 11 da noite e eu não poderia acordar o vizinho (até que poderia, mas achei melhor, não…). Não dormi mais. Estava muito confiante que o miado fosse de Kino e pela manhã, às 5 da manhã do dia 06, bato na casa de Jaime (mudei o nome do vizinho).

Bom dia… tem um gato meu no seu quintal…

Não tem, não!

Tem sim, eu ouvi.

Eu não estou ouvindo nenhum miado.

Porque ele parou agora.

Pronto! Se ele miar de novo você vem!

Meu Deus! Volto para casa e espero pelo miado.

Às 11 e meia da manhã, o gato mia de novo! Pelas caridades! O gato inventa de miar perto do almoço! Lá vamos novamente!

O gato está miando…

Entre, Alex! Procure!

É… eu pensei que o senhor não ia deixar eu entrar, nem trouxe o transportador. Vou voltar e pegar, só um minutinho…

Velocidade da luz! Eu acho que foram 10 segundos! Nos encaminhamos para o quintal e lá estava ele, deitado, o moleque Kino. Peguei ele e o coloquei dentro do transportador.

Quando cheguei em casa que o retirei da caixa, Kino estava com o braço direito torado, dividido ao meio! Estava uma parte apenas pendurada pela pele. O osso inteiramente para fora! Que dor ele deve ter sentido.

A esposa de Jaime, Neuza (nome mudado), bate do meu portão.

Alex, eu acho que Kino se machucou ao tentar pular. A cerca elétrica deve ter feito isso!

Essa foi a probabilidade que acabei aceitando. Porque o braço de Kino não sangrava e havia cicatrizado por si mesmo. Estava pendurado metade do braço, mas nem havia necrosado, nem estava sangrando. Nem havia moscas, nada! Quando se bate a esse ponto, do braço fraturado escorre sangue. Em Kino não havia nada. Apenas o osso para fora e o braço balançando no ar.

 

V. A recuperação

O médico de fato disse que Kino teve sorte; o braço com tal fratura exposta e sarado, seco. Mas precisou operar. Amputar todo o braço.

E assim, Kino fez uso de sua liberdade. Hoje, o felino tem três patas, mas continua danado como se tivesse as quatro. Quando chego do trabalho, preciso ficar atento ao abrir a porta, porque senão ele corre noite adentro.

Tem uma vida normal, apesar da deficiência. Ele conseguiu ter uma vida normal. No início ainda ficava lambendo o local do antigo braço e tentava usar o que não existia mais, por exemplo, quando ia enterrar a obra na caixinha de areia, se apoiava no braço esquerdo e baixava o lado direito como se ainda possuísse aquele braço.

Kino, cujo nome é cinema, viveu uma grande aventura!

 

O moleque Kino, com o braço direito enfaixado, alguns dias antes da operação.