• search
  • Entrar — Criar Conta

A tragédia da crise alimentar em Cuba

Cuba está próxima de uma crise alimentar que a igualaria à União Soviética. Os dirigentes cubanos, surdos ao que de fato resolveria o problema, preferem soluções ideológicas ao invés de puramente econômicas.

*Diário de Cuba

[email protected]

 

Para o economista cubano Mauricio De Miranda, o regime cubano “está às portas de um colapso em condições piores do que as da (União Soviética) URSS”, enquanto para Pedro Monreal as “discussões” nas comissões da Assembleia Nacional do Poder Popular “recordam uma comédia de emaranhados”. Ambos os especialistas refletiram sobre o desastre da economia cubana e os dados “triviais” expostos de maneira “gaguejante” pelos deputados cubanos nestes dias.

“Não há saída para a crise econômica e social em Cuba, nem indícios de que haja um programa de política econômica coerente para resolvê-la. A crise é multifatorial, mas há graves erros de política econômica que a Assembleia Nacional deveria ‘discutir’. No entanto, há um péssimo precedente de passividade parlamentar em outubro de 2021, quando foram informados do fracasso da ‘ordem'”, disse Monreal em sua página no Facebook El Estado.

“O ‘regulamento’ agravou a crise e é ‘um touro’ que oficialmente ainda não terminou de ‘agarrar pelos chifres’ em dois de seus efeitos negativos mais importantes: um ajuste macroeconômico apoiado na compressão dos salários e o empobrecimento maciço dos cubanos”, alertou.

“A questão da pobreza mudou porque sua natureza é diferente desde o fracasso do ‘regulamento’: é massiva porque os salários médios e as pensões são inferiores ao valor da cesta de bens e serviços, e isso requer uma abordagem de política econômica diferente da tradicional.

Na opinião do analista, “o desastre da venda de alimentos no varejo em pesos cubanos (sem contar o mercado informal) é responsabilidade principalmente do setor estatal, que responde por 89% das vendas de alimentos, ou seja, 8,1 vezes mais que as vendas não estatais”.

“Continuar com as lamentações não resolve a crise alimentar, nem a solução poderia vir de sonhos burocráticos como as ‘medidas de 63’. A solução está em desenvolver uma agricultura privada moderna em Cuba, mas isso não parece estar nos planos”, afirmou.

“O centro do combate à pobreza corresponde ao mercado de trabalho para poder reverter os atuais preços relativos (inflação maior que o crescimento dos salários e pensões), mas isso exigiria transformações que nem sequer foram delineadas oficialmente”, lamentou Monreal.

A solução para a crise “está na terra, nos campos cubanos; no mercado”

“Nesta altura, o país continua a debater resoluções, orientações, comissões. Uma das queixas (…) é que os municípios não têm clareza sobre a magnitude da procura e das necessidades, bem como dos recursos que estão disponíveis”, questionou Mauricio De Miranda Parrondo sobre alguns dos “debates” nas comissões da Assembleia Nacional.

“Quando se vai entender que não são os poderosos que conseguem estimar a demanda? Isso é responsabilidade das empresas, dos diversos atores econômicos. É o Mercado que faz isso. Onde as demandas não são atendidas, o ajuste costuma ocorrer por meio de preços e os preços estimulam os produtores a produzir mais. E com maior produção e ambiente competitivo, os preços caem”, afirmou em postagem no Facebook.

“Depois, (Esteban) Lazo diz que ‘o país não tem dinheiro para importar’. Não é o país que deve importar. São os empresários. Mas fora isso é inadmissível que Cuba importe a maior parte dos alimentos de que necessita. Quer mesmo saber as causas?”, questionou.

“As causas estão em um sistema que não funciona e nunca funcionou. A solução está na criação de condições para o funcionamento de um mercado transparente; na eliminação de estruturas burocráticas; na eliminação de métodos administrativos para direcionar a economia; na criação de um mercado atacadista de fertilizantes, máquinas e insumos para aumentar a produtividade da mão de obra e na modernização da atividade agrícola que ainda usa bois para arar a terra; na eliminação de monopólios estatais como o armazenamento. Só isso para começar”, afirmou.

“Uma lei de soberania alimentar não resolve a imensa escassez de alimentos que a sociedade cubana sofre. Não é na Assembleia Nacional que isso se resolve. Não é com visitas de dirigentes. Não é com reuniões. É na terra, nos campos cubanos; no mercado. É fundamental permitir que os camponeses tenham condições de produzir”, afirmou.

Em resposta a um comentário sobre a “inatividade” do regime, De Miranda Parrondo escreveu: “Não sei por que não está claro para tanta gente que o país está às portas desse colapso em condições piores que as da URSS”.

Em outra postagem em seu blog no Facebook, Monreal considerou: “Pode ser a forma como está sendo noticiado pela imprensa, mas o que lemos hoje sobre as ‘discussões’ nas comissões da Assembleia Nacional nos lembra uma comédia de emaranhados. Não está claro se é um problema de incapacidade técnica ou de ‘diretrizes’ que foram dadas.”

Entre os exemplos citados por ele: “Uma ‘pérola’ clássica: afirmar que ‘as 93 medidas para salvar a safra’ estão tendo um impacto positivo ao mesmo tempo em que reconhece uma regressão do setor que consiste principalmente em simplesmente não trabalhar. Outra ocorrência ‘campeã’: a ideia de que com menos de um quinto dos recursos necessários podem ser ‘planejados’ resultados superiores para um setor à deriva como o açucareiro.”

Monreal atribuiu “a medalha de ouro do disparate denunciado” à “incapacidade de controle do Estado, quando se reconhece a amplitude dos crimes econômicos, mesmo ‘legalizados’ em contratos, e simultaneamente se denuncia a diminuição da capacidade de fiscalização”.

“A crise econômica e social de Cuba está se aprofundando, mas não parece que os ‘tomadores de decisão’ vão além de descrições desprovidas de autocrítica, exortações e adesão às ‘listas de medidas'”, concluiu.