*Franklin Jorge, Editor.
Recentemente tive a oportunidade de ser entrevistado e forneci ao meu entrevistador subsídios para o que pensei pudesse ser minha última entrevista. Expus minha alma e meu processo de criação que me fez trilhar por um caminho cheio de exigências.
Comecei citando, quanto me impressionava toda vez que, ao entrar na Livraria Walter Pereira, deparava esses versos de Dante Alighieri, extraído da Divina Comédia, que me Avó materna – que me educou e encaminhou na vida – costumava dizer-me quando eu era menino, para ressaltar a importância do livro e do conhecimento na formação intelectual de um menino que ela esperava viesse a se tornar um escritor de renome:
“Quando diante de Deus vos apresentardes, tereis um livro na mão.”
Tinha sempre estes versos em minha mente ao entrar e ao sair da livraria. Eles estavam inscritos à entrada da Livraria Universitária, de Walter Pereira, que visitávamos semanalmente em busca de novidades, onde, aliás, com o tempo, conheci e fiz amizade com Maria Boa que era uma grande leitora. Contudo, só passei a prestar-lhe atenção quando a conheci, de fato, na Livraria Encontro. Quase em frente à Universitária que gravara aqueles versos por escolha do estilista Edgar Barbosa. Um homem que se manteve moderno, aberto ao novo e comunicativo.
Alusão à passagem dos meus 70 anos. Segundo preceitos bíblicos, estarei entrando, aos 70 anos, na idade das canseiras. Quando temos o pleno conhecimento do corpo, mas ainda assim ele pode aplicar-lhe uma falseta.
Digo e repito. Tive o privilégio de uma infância rural no Estêvão, propriedade rural no Vale do Assu entre os rios Assu e Panon, onde vive dos 2 meses de vida aos 14 anos. Creio que isto tenha sido determinante para a minha formação intelectual e moral e para a espécie de escritor que sou, nutrido de humanismo e de valores ocidentais, como o respeito aos animais, aos idosos e às pessoas em situação de vulnerabilidade e injustiça. Meu avó postiço e padrinho de batismo, Antônio Gentil da Fonseca, incutiu isto em mim, como amar os animais e as árvores.
Sempre quis ser escritor, mesmo que para isto viesse a passar privações. Um escritor que escolheu seus predecessores.
Desde muito jovem, no Assu e no Ceara-Mirim, me apercebi que a existência só se justifica através a criação de uma obra. Que justifique a existência e nos represente no futuro.
A imortalidade proustiana possível.
Como escritor, investi a mim mesmo em minha obra como parte de minha existência
A cultura começa pelo exercício da generosidade. Sem generosidade não há cultura.
O papel do gestor de cultura e do editor de jornais seria o de descobrir e incentivar a plena realização do talento alheio; é alguém que investe no crescimento intelectual de quem detém algum mérito ou possui aquilo que os antigos chamavam de “dom”. Nosso dever é descobrir o talento alheio e incentiva-lo. Como o professor vocacionado, o editor e o gestor tem o dever de proporcionar aos que estão sob o seu comando criar as condições necessárias para ser superado por eles. Como repórter e entrevistador, tenho procurado ficar em segundo plano em relação aos meus subordinados e aos entrevistados, pois entendo que o meu papel, como editor e gestor de cultura, é fazê-los brilhar. É isto o que me gratifica e engrandece o meu trabalho.
Em um mundo líquido, no qual tudo é efêmero, a virtude se perde das coisas e os valores caducam
Creio que a grande literatura ou Alta Literatura, carecida de valores humanísticos e literários, morreu. Como morreram os dinossauros. Não há mais lugar para a liberdade de expressão e a soberania do pensamento que distingue o homem racional dos animais.
As instituições refletem os valores humanos. Homens maus não fazem instituições meritórias
Marcel Proust viu a leitura como uma forma de amizade
A Cultura resulta do exercício da generosidade; sem generosidade, sem cultura.
O Conhecimento não é privilégio de alguns; deve circular para grandeza das gentes.
Falta generosidade à nossa Cultura
A Cultura resulta do exercício de generosidade. Sem generosidade, sem cultura.
Em resumo, se não somos capazes de fazer e realizar, sobra muito pouco de uma existência, por mais longa que ela seja
A Blogosfera é um poderoso e pernicioso dissolvente de valores que nos tem guiado há séculos e que aprendemos, pela educação, a respeitar. Com a morte desses valores, caminhamos fatalmente para o caos e se vivermos amis alguns anos veremos o mudo transformado em um grande lixão de valores mortos.
Quando menino, gostava de aventurar-me pelos carnaubais, pesado nas coisas que foram e terão sido
Encantava-me, quando menino, os sortilégios da noite e a fartura de um bom inverno
Amava os ciganos que me faziam pensar em mundos desconhecidos
Desde jovem pesava, escrevendo, dar vida aos mortos e voz a quem não tem voz
COISAS QUE PODEM SER CITADAS:
1- A fundação e instalação da Oficina de Gravura Oficina de gravura Rossini Quintas Peres, em 1979, na FJA, sob a presidência de Cláudio Emerenciano, que seria o braço educativo da Pinacoteca do Estado, que não existe mais por falta de manutenção e do descaso do Ministério Público que não fiscaliza efetivamete as instituições culturais.
2 – Fundação e instalação da Pinacoteca do Estado em 1983, sob a presidência de Valério Mesquita
3 – Doação de 2000 mil livros de minha biblioteca particular à Biblioteca do SESC, que fiz antes de viajar para a Amazônia em1986
Criação de bibliotecas comunitárias em bairros periféricos de Natal, cada uma com 300 títulos tiradas de minha biblioteca particular; a última foi criada no Passo da Pátria, no de Carlos Eduardo, cujos livros foram vendidos depois nos sebos da cidade
Propôs ao secretário de cultura quando um dos diretores da Secretaria Municipal de cultura, do Museu de Escultura a céu Aberto, que não chegou a ser implantado e vai ser agora, pelo prefeito Dias, em local inadequado
Criou os cursos de artes plásticas do Solar Bela Vista para os quais convidou Fernando Gurgel, Núbia Albuquerque e Madé Weiner como professores que nos deram uma grande contribuição ao ensino das artes em Natal. Sempre procurei dar visibilidade aos talentos autênticos. Como Vicente Vitoriano e Erasmo Costa Andrade.
Obteve, no centenário de nascimento de Cascudo, o Prêmio de Literatura Luis da Câmara Cascudo em 1998 com o livro Ficções fricções africções, atribuído pela Prefeitura de Natal por unanimidade do júri sob a Presidência do Professor Eduardo Pinto, então presidente da Funcarte.
Editor de Cultura de todos os grandes jornais do RN
Nesses últimos 50 anos doei 10 mil livros em Natal. Tenho o hábito de “esquecer” livros dentro dos ônibus, bancos de praça e lugares públicos em geral.
Creio que é suficiente. Fugir do estacionário.
Procurar o meu abutre.