*Alexsandro Alves
A natureza é perfeita, quem nunca ouviu essa frase? Eu a ouvi muitas vezes e eu tenho certeza que a ouvirei ainda outras tantas.
É uma frase irmã daquela outra graças a Deus!. Todo o mundo fala, sem nem imaginar se é verdadeira ou não. Mas o que é a verdade?
Mas sabiam que raramente eu pronuncio essa frase sobre a natureza? Eu nem me lembro quando a pronunciei da última vez. Graças a Deus, mesmo sendo ateu, ainda me pego pronunciando. E ainda escrevo Deus assim, com d maiúsculo…
Porém eu gosto da natureza. Eu gosto de me sentar com tranquilidade em um jardim, eu amo ver o mar, imenso, abissal, tenebroso; o mar nos oferece tanto uma sensação de poder quanto de impotência. É maravilhoso demais. Eu também gosto dos vulcões e dos passarinhos cantores.
Essa semana eu observei alguns gatos.
Entre gatos e gatas, o comportamento é bem diferente.
Os gatos são mais amáveis. Eles têm poucas preocupações em suas vidas. Apenas em conseguir comida. Vivem vadios, brigando com outros gatos, expulsando outros gatos e se apoderando do território – e das fêmeas que vivem nele – mas não assumem os gatinhos! Caminham muito.
Quando caçam, os gatos se divertem com a caça. Eles brincam com a comida. Seus rostos são quase sempre maiores do que os rostos das fêmeas e suas expressões são mais descansadas, porém mais firmes. O gato vive para rua. Ele é o maioral.
As gatas possuem mais tarefas do que os machos. Primeiro, elas engravidam. Assim, passam dois meses tendo que cuidar dela e das crias que estão em seu útero. Por isso são mais ariscas e mais agressivas. No cio, são bastante dóceis. Mas serão abandonadas por todos os gatos que as possuírem.
Na verdade, em troca, eles sequer terão a chance de ver os filhotes: as gatas não deixam. Elas não confiam. Eles podem matar os filhotes que não são deles.
As gatas trabalham mais, elas têm dupla jornada.
Eu lembro que observava, certa vez, uma gata lactante. Magra. Mal tratada. E com vários filhotes. Ela caçava para ela e para os filhotes. Na natureza, as gatas não brincam com a comida.
Havia gatos adultos por perto. Possivelmente os pais dos pequeninos. Descansavam.
A mãe gata conseguiu caçar uma lagartixa enorme. Trouxe para as crias. Possivelmente caçara sua parte antes. Os filhotes não sabiam o que fazer com a iguaria. Cheiravam. Tocavam. Era engraçado. A mãe tocava e olhava para eles, miando e segurando o olhar neles. Eles tentavam mordidas. Indo e voltando, e olhando para a mãe. Uma educadora.
Há a violência. Conheci uma gata, novinha, que sempre era estuprada por um gato. Ela não desejava sexo, mesmo porque era ainda jovem e o cio não conhecia. O que me intrigou ainda mais. Mesmo sem expelir qualquer hormônio sexual de sua vagina, o gato a forçava.
Os filhotes, por vezes, nunca deixam a mãe em paz. Tanto assim que, para ter um momento apenas dela, a gata foge dos filhotes por um tempo.
Minha gata Bonnie teve, eu acho, estresse pós parto. Quando acordei e fui ver seus quatro filhotes que parira na noite anterior, só havia dois vivos. Um terceiro, ela jogava para o alto, com a boca, já morto, e o chutava quando caia. E o quarto? O procurei pela casa inteira. Nunca o encontrei, nem vivo nem morto.