*Carlos Gurgel
Ele foi e será sempre um ícone. Daqueles translúcidos e guerreiros, desfraldando como um arco íris, girassol generoso; sua inconfundível dedicação às cores das suas molduras múltiplas e insubstituíveis.
Arruda cresceu entre todos nós, como um intenso, um inabalável farol, irrequieto, de tantas posturas e verdades. defensor intransigente da sua escolha sexual, sem trégua, abriu clareiras por todos os lados, dessa cidade repleta de nãos e quase infinitas barreiras. conheci Sales, lá pelos anos 70, época da banda Gália, onde ele frondosamente perfilava uma variada revelação de protagonismos de caricaturas.
Reinou absoluto ao redor das avenidas e blocos carnavalescos, como precursor dessa efervescência e conquistas que hoje se vê, no meio do turbilhão da sua classe e pulsação da vida sem estereótipos e fugas. desfraldando seu espaço, quintal por onde sua figura, caricaturou personagens locais, com exímia arte e sensibilidade. são de exemplos assim que a cidade necessita para seu próprio reconhecimento.
Verdadeiro, íntegro. ator da sua própria vida, como uma luz, Arruda escolheu a Ribeira, com essa sua firmeza irretocável, como espaço por onde seu teatro retrô, vintage de purpurinas e lanças perfumes, pudesse respirar e sobreviver. foi sim, com a fama e garra de Arruda, que essa cidade do Natal, por inúmeras vezes foi reconhecida, como esse seu exemplo de incondicional dedicação, dessa sua pessoa, acima do seu tempo, das suas avenidas e praças. com sua partida, seguramente a cidade fica bem mais triste, refém de tantos comodismos de impassíveis gestos. Como uma estrela que iluminou o chão por onde andou e se fez lenda.