*César Aira
O que ela mesma chamaria mais tarde de “caráter alexandrino” entrou em circulação. A chave para o seu funcionamento era a juventude, que continuaria a ser a sua característica essencial até à morte e mais além. Foi aperfeiçoado a partir de traços espontâneos, todos envoltos numa justificativa poética, que tomou a forma de uma amplificação metafórica. Não há razão para acreditar que tenha havido manipulação cínica da realidade. A dificuldade de viver era genuína, mas foi precisamente aí que a personagem interveio para tornar a pessoa real credível e justificá-la.
A vocação poética deve ter nascido ou afirmado no mesmo movimento. Os modelos biográficos saíram dos livros e se tornaram reais nela. Deve ter sido como mágica. O único requisito para que funcionasse era ser uma grande poetisa, e na absoluta convicção de o ser (parece nunca ter tido sérias dúvidas nesse sentido, fora o fato de os fatos muito em breve a confirmarem), revela ser autenticamente adolescente. A juventude tornou isso possível e sempre tornaria isso possível. A dificuldade de viver continuaria a manifestar-se aos trinta anos de idade, tal como acontecia aos vinte. Ao torná-la parte central da personagem, ela se manteve à distância, mas ao mesmo tempo continuou no centro, gerando todo o resto.
César Aira
Alejandra Pizarnik