*Franklin Jorge
Excepcional cronista da vida brasileira no século passado, Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do jornalista e bancário Sérgio Marcus Rangel Porto, marcou uma época no jornalismo brasileiro com a criação duma galeria de tipos inesquecíveis que se tornaram familiares para milhões de leitores, passando das páginas dos jornais para uma dezena de livros de grande popularidade em fins dos anos de 1960 e começos da década seguinte.
Cronista irreverente da vida carioca, percebeu que a imbecilidade constitui um importante tema a ser explorado, no seu caso, numa prosa jornalística fluente, de grande oralidade, que se tornou rapidamente em objeto de consumo para uma grande parcela de leitores brasileiros, ávidos de novidades, que de imediato se identificaram com personagens como a Tia Zulmira, o Primo Altamirando, o Rosamundo, o Pedrinho, o ”Garoto Linha Dura” que seria uma figura paradigmática dos chamados dedos-duros ou alcaguetes, entre muitas outras figuras cheias de vida que compõem essa Comédia Humana carioca que enforma e contém o espírito de uma época.
Falecido aos 45 anos, em 1968, se vivo fosse Sérgio Porto teria em figuras arrogantes e ridículas, como o ministro Alexandre de Moraes, entre outros togados e parlamentares associados ao crime organizado e aos narcotraficantes um inesgotável leque de personagens aptos a sintetizar e resumir o que há atualmente de mais podre e abominável no cenário político de um país que tem se notabilizado pelo fato de não ser nada sério, conforme a arguta observação do Conde de Gobineau, depois apropriada e celebrizada pelo Presidente Charles De Gaulle que a difundiu e tornou universalmente popular.
Sucesso jornalístico e editorial extraordinários, as crônicas, em sequencia reunidas em uma coleção de livros de grande apelo popular, Sergio Porto, como bom observador dos fatos, conquistou o público e se fez notar por sua verve ao produzir um corolário de verdades contundentes reunidas em uma serie que se tornaria conhecida como Febeapá – Festival de besteira que assola o país – uma antologia de chistes e ridículos cometidos por autoridades e pessoas notórias. Sem dúvida, terá criado em seus escritos um novo gênero literário, o Besteirol que reduz a crônica política a uma inesgotável sucessão de anedotas.
Figuras como Maria da Penha, Gleide Hoffmann, Jean Willis, Renan Calheiros, Rodrigo Pacheco, Randolfe Rodrigues, Luiz Facchin, Luiz Roberto Barroso, o Boca de Veludo, Fátima Bezerra, Gilmar Mendes, entre outros da mesma caterva de seres reles e ordinários.