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A voz goiana que não se cala

Fundador de Navegos evoca encarnação da alma goiana, em José Mendonça Teles, objeto de debate acerca de sua contribuição como cronista da cultura goiana, pesquisador, divulgador, patrono de Instituto Cultural.

*Franklin Jorge

José Mendonça Teles, escritor goiano que se destacou por suas crônicas históricas e afetivas, destacou-se sobretudo como divulgador de talentos e dos valores culturais de sua terra. É agora homenageado em um painel que põe em evidencia sua criação e esforço no sentido de dotar Goiás de um legado digno de aplausos e reconhecimento.

Partidário de Goiás e de sua cultura, singular e abrangente, era um exemplo vivo do intelectual que se importa com o seu tempo sem perder o fio da história. Estava sempre jovialmente à serviço da Cultura Goiana.

Conheci-o em 1978, por iniciativa da escritora Alcyone Abrahão que viveu entre nós, à Rua Apodi 558, enquanto organizava os papéis amealhados em suas incursões pelo Brasil profundo e que resultaria na confecção do livro Não coloque o macaco diretamente sobre o pavimento, que tive a honra de ler enquanto era escrito com amor e discernimento. Presenteou-me cm com seus livro se de autores goianos vivos e mortos, cônscio de o fazer para maior glória da Cultura Goiana., que encarnou com zelo constante.

Creio que ninguém divulgou mais a Cultura Goiana do que José Mendonça Teles, e não apenas a Cultura produzida em Goiás, mas também aquela inspirada por ela, como é o caso de meu livro O ouro de Goiás [Goiânia, Instituto José Mendonça Teles/Editora Kelps, 2012], esgotado poucos dias depois de seu lançamento. no momento a Editora Feedback trabalha a 2a edição do livro em versões impressas e digitais.

Publicado por sua iniciativa, sem qualquer pedido ou intervenção de minha parte ou de quaisquer outras pessoas. Certa noite, inesperadamente, ligou desde Goiânia para minha casa e disse-me que dispunha de uma verba para a publicação de um livro e ele escolhera justamente O ouro de Goiás, por  saber que conteria matéria de interesse do povo goiano, apesar de desconhecer o manuscrito mas não o meu esforço de divulgação da Cultura Goiana e do meu empenho de irmana-la com a Cultura Potiguar, fato já comprovado por registros históricos velhos de mais 200 anos que remontavam a um tempo em que a Província do Rio Grande do Norte provia a Província de Goiás com o sal aqui produzido e que chegava ao Brasil Central em lombos de burros numa viagem que chegava a durar quase um ano de um hemisfério a outro.

Prático como um poeta,, ao conversar comigo estabeleceu um prazo  sem apelação: eu teria um mês apenas para rever manuscritos, organiza-los., copia-los e enviar-lhe os originais dentro dos prazos nada fácil, para mim  que perdera a única cópia dos originais se perderam com o suicídio do escritor potiguar-goiano Getúlio Nóbrega, médico conceituado em Goiânia, membro do Instituto e Geográfico de Goiás, que se oferecera para patrocinar a edição às suas expensas, desde que lera uma nota acerca do autor publicada em jornal de Salvador, que ele lera dentro dum avião que fizera conexão em Salvador, sobre a existência desse livro ainda inédito que consumiu, de minha parte, um esforço de 30 anos de pesquisa e elaboração.

Confesso que fiquei desanimado. Mesmo assim, movido pela admiração a tantos valores goianos e à memória de grandes escritores e artistas com os quais tive o prazer de desfrutar da amizade (Alcyone Abrahão, Cora Coralina, Carmo Bernardes, Bernardo Élis, Antônio Poteiro, da historiadora Dra Amália Hermano Teixeira, Dra Jandyra Hermano de Paula, Iracema Dantas, Doutora Jandyra, Antônio José de Moura, Ubirajara Galli entre outros). dos autores mortos, como Hugo de Carvalho Ramos, um proto-regionalista; autor um clássico esquecido não fora o suprimento da Bolsa de pu7blicações Hugo de Carvalho Ramos.

Naquela mesma noite me dispus a reescrever o livro que eu levara 30 anos para escrever e em um mês essa nova versão, embora mais pobre, estaria nas mãos de José Mendonça Teles. Cinco semanas depois eu recebia em Natal 300 dos 500 exemplares da obra adornada por magnífico prefácio que me honrava já a partir do título: Um Anhanguera cultural, escrito pelo historiador e escritor Ubirajara Galli.

Cuido, no momento, de uma reedição da obra nas versões impressa e digital. Desejo tornar acessível uma pesquisa e a elaboração formal de O ouro de Goiás, ao qual poderei agregar O céu de Goiânia, que escrevi lá e fiz publicar em prestigioso semanário. Creio que umas dez crônicas a mais.

José Mendonça Teles tirou O ouro de Goiás do limbo em que se encontravam há anos, inédito e mais recentemente desaparecido para sempre. Como disse, com data marcada, tive de reescrever todo o livro, que me saiu exausto. Sem algumas minúcias, algumas vezes de maneira resumida e apressada. Premida por prazos. Mas fez-se, em cima das coxas, mais fez-se.

José Mendonça Teles merece ser exaustivamente estudado; pesquisado; ampliado para que nos sirva de exemplo, como homem e lutador em defesa de maior grandeza da Cultura Goiana. como testemunha viva, junto-me à sua claque.

Abaixo, vídeo do painel em memória de José Mendonça Teles, que certa vez, ao retrucar um comentário que fizera sobre o seu trabalho de grande divulgador da Cultura Goiana, afirmou: “Faço apenas o que vc costuma dizer da Cultura: que ela começa com o exercício da generosidade”…

Link para acessa ao vídeo https://www.youtube.com/watch?v=vsFPQASVyR0