• search
  • Entrar — Criar Conta

Abrigada em um mundo delicado…

Viver sem riscos e com tudo planejado, para muitos a vida ideal, o sonho mágico no outro lado do horizonte ensolarado… Mas para outros, a morte em vida… Até que ponto conseguimos colocar a nossa existência em risco?

*Anäis Nin

[email protected]

Você vive assim, abrigado, num mundo delicado, e acredita que vive. Depois ele lê um livro ( Lady Chatterley , por exemplo), ou faz uma viagem, ou conversa com Richard, e descobre que não está vivo, que está simplesmente hibernando. Os sintomas da hibernação podem ser facilmente detectados. O primeiro é a inquietação. O segundo sintoma (que surge quando o estado de hibernação começa a ser perigoso e pode degenerar em morte) é a ausência de prazer. Isso é tudo. Parece uma doença inofensiva. Monotonia, tédio, morte. Existem milhões de pessoas que vivem (ou morrem) assim, sem saber. Eles trabalham em escritórios. Eles têm um carro. Eles vão para o campo com a família. Eles educam seus filhos. Até que chega um choque repentino: uma pessoa, um livro, uma música, e os acordam e os salvam da morte.

Alguns ficam dormindo para sempre. São como alguém que adormeceu deitado na neve e nunca mais acordou. Mas não estou em perigo, porque a minha casa, o meu jardim, a minha vida agradável não me conseguem adormecer. Sei que estou numa bela prisão da qual só posso escapar escrevendo. Foi por isso que escrevi um livro sobre DH Lawrence, por gratidão, porque esse livro me acordou. Levei-o para Richard e ele preparou os contratos, e então me contou sobre seu amigo Henry Miller. Eu havia mostrado meu manuscrito a Henry Miller e Miller disse: “Nunca ouvi verdades tão duras contadas com tanta delicadeza.”

“Eu gostaria de levá-lo para jantar em sua casa”, Richard me disse. E eu disse que sim.

Assim, delicadeza e violência estão prestes a se encontrar e se desafiar.

 

Anais Nin.
Diário I (1931-1934)