*Da Redação
Desde que iniciei minhas atividades na educação como professor, que escuto esta fala “eles querem acabar com o noturno”. “Eles”? O governo, qualquer governo. “O noturno”? A expressão diz respeito às atividades escolares desenvolvidas em sala de aula, nas escolas, durante a noite. Geralmente são atividades voltadas para o ensino de jovens e adultos, o antigo supletivo.
Quando ouvia isso, eu, um jovem professor recém egresso da universidade, de um curso de humanas, Sociologia, achava aquilo uma barbaridade.
“Como querem acabar com o noturno? O que eles querem é oprimir os pobres e deixá-los à mercê da exploração”, concluía eu, um perfeito imbecil alienado pela coletividade acadêmica. Um tipo comum. Geralmente, nós, que saímos de qualquer curso de humanas, pensamos que somos os salvadores dos pobres, que falamos pelos pobres e que somos a voz interior dos pobres.
Sociólogo adora a pobreza e isso possui muitos significados.
Porém, à medida que os anos se passavam, eu notava o quão distante da realidade caminhava a cabeça acadêmica. E caminha ainda.
Na sala de aula eu aprendi que a esquerda, que as humanidades, não conhecem os pobres. Sabe o que se conhece? “Um recorte”.
O sociólogo ou qualquer outro, entrevista uma parcela ínfima de pessoas e expande esse conhecimento obtido, validando-o para toda a sociedade. E ainda mais: já saem a campo com uma premissa que precisa ser provada. A dúvida é quase como uma fantasia. Nos labirintos da inteligência acadêmica, o real já foi imaginado. Basta agora algumas entrevistas para a comprovação.
É por isso que as políticas públicas, oriundas desses estudos científicos, para a educação, não funcionam na prática. Só servem para angariar diplomas e títulos para uma elite intelectual que vive de autofagia eternamente.
Quanto mais estudos sobre educação, mais a educação desmorona no país! O que está errado, afinal? Para que servem os corredores de humanas?
Para que serve a educação no Brasil?
Esse texto, também meio desabafo e meio cansaço, é um prelúdio de uma série sobre educação na prática, na vivência de um professor, que iniciarei a partir de amanhã. Eu quero relatar minhas vivências em quase 20 anos de sala de aula em escolas públicas da rede estadual potiguar na modalidade Ensino de Jovens e Adultos. Será um desmascaramento e ao mesmo tempo um alívio, e também um ato de violência contra todos os que fizeram a educação chegar ao ponto em que hoje se encontra, a começar por Paulo Freire e tudo o que dele advém, todas as balas ideológicas que a prática de sua ideologia dispara contra o ato de educar.
Nessa edição de Navegos, os colunistas (clique nos nomes para ir direto ao artigo): José Vanilson Julião, Nadja Lira, Alexsandro Alves, Bruno Cena e Olavo de Carvalho. Desfrutem.