*Franklin Jorge
A epidemia de inclusão de que adoece a sociedade se reflete de maneira perniciosa sobre as antes respeitáveis academias de letras. Hoje, qualquer arruado ou vila têm seu sodalício nos quais vicejam, como ervas daninhas, pseudoliteratos, a maioria, como o novo-rico Monsieur Jourdan, célebre personagem da peça de Molière que somente por acaso descobriu a existência dos gêneros poético e prosístico, e que, durante toda a sua existência, falara em prosa e não sabia!
A Academia Norte-riograndense de Letras está na vanguarda desse modismo e já se arvora em rival da própria Academia Brasileira de Letras. Ambas cortejam, não o talento e o mérito ou a contribuição à cultura literária, mas celebridades e subcelebridades, elegendo para seus parnasos socialites e vaidosos endinheirados que contratam terceiros para produzir a própria obra, como Diógenes da Cunha Lima, Valério Mesquita, ambos imoirtais, e Isaura Amélia Rosado, useiros e vezeiros nesse expediente. Todos eles montados na grana, – o Diógenes na grana privada e a perereca mossoroense na grana pública- Ambos costumam recorrer aos préstimos de escribas de aluguel para firmar a obra que vendem como se da própria autoria fosse.
Mas, falando do diabo, lembrei-me que em 2013, no encerramento do Dia da Poesia em 12 de maio, que se notabilizou no gênero como o mais importante evento jamais chancelado no âmbito da Fundação José Augusto até então, ela me propôs, de maneira indecente e rosadista, publicarmos juntos, como autores, um livro documental sobre esse Dia extraordinário que se tornou um grande acontecimento e contou com a presença do poeta Thiago de Melo como carro-chefe, apresentado na Pinacoteca do Estado que fundei em 1983 e que, naquele ano, 2013, eu dirigia pela segunda vez.
Essa senhora de triste figura, que parece pertencer à família das pererecas – se as pererecas pintassem os cabelos de fogo e frequentassem salas de bate-papos para adultos-, diante de minha surpresa com tal proposta de tão descarada ao saber que ela tinha a veleidade de passar por autora, explicou-me com o seu jeito rosadista de ser que eu escreveria o livro e ela digitaria o texto, esporte que costuma praticar à noite quando não estava na blogosfera. Esta seria, em sua cândida explicação, toda a sua contribuição como co-autora. Que essa parceria seria boa para ela e para mim e que, como secretaria extraordinária da cultura, usaria a verba pública para publicar o livro numa edição de luxo, de capa dura, para causar a inveja dos escritores autênticos. Respondi-lhe que não cultivava o hábito de passar pelo que não sou. Que, bem ou mal, sou autor de meus próprios pensamentos e que somente seria co-autor, como já o fui com a escritora Leila Míccolis, se pudesse contar com o concurso de um autor de talento e cultura, como esses dos quais valorizo a convivência. Ela ficou de cara mexendo enterrada na lama…
Mas, voltando à academia que se perdeu rumo à luz, enceguecida pela vaidade e a ostentação, cada uma que cultive seus ridículos, como a do Assú, a Brasileira, a de Natal, a de Mossoró, a de Macaíba, a de Campos dos Goytacazes e, para não deixa-la de fora desse pastoril provinciano, a de Ceará-Mirim, que ainda se dá ao desplante de ostentar o nome de seu fundador. Assim, nesses colegiados poucos são aqueles que ostentam o capelo da imortalidade que dispõem minimamente do mérito necessário para posar de autores. A maioria – e as exceções se tornam cada vez mais raras – não tem no “culo” – como costumam dizer popularmente os espanhóis – o que um periquito roa.
FOTO A bela fachada da Academia Norte-riograndense de Letras, construída sob a presidência do escritor Manoel Rodrigues de Melo.