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Aconteceu em Cambé, PR

Alexsandro Alves, escritor e professor, a partir de mais um atentado a uma escola, pensa na questão das atuais socializações da modernidade. Na sua liquidez, no seu desapago à família e na sobrecarga docente.

*Alexsandro Alves

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O atentado na Escola Estadual Professora Helena Kolody, na cidade de Cambé, no Paraná, cujo autor é um ex-aluno da instituição, de 21 anos, deixou duas pessoas mortas: Karoline Verry Alves, de 17 anos e Luan Augusto, de 16. Hoje, o autor do atentado foi encontrado morto em sua cela, enforcado.

Como professor, eu lamento muito o ocorrido. Isto choca nossa sociedade, em particular choca as escolas e sua comunidade: professores, alunos, funcionários e pais.

Procurar culpados não adianta, porque se procura com os sentimentos errados. Procuram na política, procuram na proliferação de armas. É fácil e muito cômodo culpar o ex-presidente Bolsonaro, ele está longe de nós. Quem quer assumir sua própria culpa?

Eu não imagino que as políticas bolsonaristas sejam culpadas. Os culpados somos cada um de nós. Eu imagino que é doentio e irresponsável culpá-lo. Porque Bolsonaro não é a causa de tudo, ele é outro efeito.

A causa reside em cada lar. Em cada família. Em cada pai. E cada mãe. Nos filhos. Há uma socialização equivocada no desenvolvimento da família brasileira. Os laços afetivos estão frouxos. Aos poucos isto foi ocorrendo. A segurança e a estabilidade emocional que o amor familiar confere à convivência se diluíram.

A rapidez dos contatos sociais modernos não gera afetividade genuína. Não geram diálogos. As novas tecnologias sociais são o ápice do individualismo. E elas contribuem para esse silêncio nos lares.

Outra questão é a transferência do ato de educar para a escola. Professor educador? Delegar ao Estado essa função é uma das causas do terror que invadiu as instituições de ensino. Nós, professores, não educamos ninguém. Essa tarefa é competência da família.

Passar 50 minutos por dia em uma sala de aula com 30 crianças ou adolescentes e ainda transmitir o conteúdo da disciplina, qual o tempo para educar? Educar não é um ato líquido, é um ato sólido.

E é isso que falta nas relações sociais modernas. É tudo muito sem forma, líquido. É tudo livre demais, porém educar pressupõe hierarquia, tradição, solidez. Ordem e comando. Confiança e respeito. Pais e filhos. Ao perder a solidez desse contato social, a sociedade diluiu-se.

Esta diluição escorre impedindo o atrito necessário para uma troca de olhares, para um aperto de mão, para uma pergunta simples como: “podemos conversar?”, mas não uma conversa de rede social, claro; uma conversa entre pessoas reais que se sentam lado a lado em uma mesa ou na sala de estar e constroem suas vidas a partir dessas relações. O amigo, a amiga, a escola são líquidas para educar. A estrutura sólida é a relação familiar, isso é a parte que solidifica o caráter individual e assim se mantém o corpo social.

Os dois jovens vítimas do atentado.

A escola.