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Ainda os jornais…

A era dos jornais impressos está chegando ao fim, graças a ascensão e a grande força constituída pelas redes sociais, que formam hoje uma espécie de artilharia popular, ao colocar em prática um preceito defendendo há mais de 100 anos por Charles Baudelaire, fundador de um jornal de vida curta, A saúde pública, que viu o jornalismo como o é atualmente, uma forma de advocacia popular. É o que nos diz e mostra o Fundador de Navegos.

*Franklin Jorge

Há alguns anos atrás um jovem jornalista chileno percebeu que o jornalismo, em si, estava dissociado do povo e o seu lugar não era as redações. Certo de sua convicção, resolveu fazer a roda girar ao contrário e carregou consigo a redação, levando-a para as ruas e para mundo, fazendo a noticia no meio do povo, sem os filtros de editores que em qualquer parte do mundo representam interesses de terceiros. São apenas paus mandados que comandam seu exército, grande ou pequeno, de repórteres, meros repetidores da vontade dos patrões.

Há mais de 40 anos eu costumava referir-me a respeito do fim do jornalismo. Quando trabalhei no Diário de Natal/O Poti e testemunhei o despotismo de diretores, como Vicente Serejo e seus comparsas, percebi com clareza que o fim dos Associados estava próximo e era raro o dia em que não entrava na sala do superintendente, Albimar Furtado, para alerta-lo sobre o fim de nossos empregos.

Um jornal não podia prosperar e manter-se crível aos olhos dos leitores sob uma perspectiva que privilegiava, não os interesses do leitor mas a vontade e os interesses de alguns editores e diretores, como o já referido Serejo,  que terá contribuído sistematicamente para o descrédito do jornal, ao impor sua vontade contra os leitores e sobretudo contra seus melhores repórteres, que tinham de formar o seu exército particular, não a equipe de jornais que, enquanto lá prestei serviços, funcionava sem comando. Mandava ali quem falava mais alto, no caso, o próprio Serejo que carrega 12 reis na barriga gordalhona e cheia de bosta.

Talvez seja Natal uma das raras capitais brasileiras que não tem mais jornais. É verdade que atualmente os meios são outros, mais democráticos e independentes, como as Redes Sociais nas quais ninguém manda. O que, no entanto, não nos impediria de termos bons jornais impressos, desde que habitados pela novidade e à serviço dos interesses populares.

O jornalista e publicitário Cassiano Arruda Câmara, oriundo dos Diários associados, ainda intentou dar a volta por cima, ao criar o mais revolucionário de todos os nossos jornais até então existentes, O Novo Jornal, que mudou entre nós a maneira de fazer jornalismo. Para mim, foi uma experiência extraordinária, mais pelo próprio Cassiano do que pelo diretor de redação, que apesar de ainda novo representava o velho e o carcomido e via o jornal como um instrumento de poder pessoal. senti que tivesse de fechar, privando-nos uma experiência nova e de um modo novo de produzir um jornal.

 

 

Cassiano Arruda