*Franklin Jorge
Chapeuzinho deixou-nos. Anoiteceu e não amanheceu em casa que pensei ser o seu lar já de uns cinco anos. Nasceu uma griffe em sua brilhante pelagem branco-nero. Tem um ar espevitado, irrequieto, gentil e amável que se expressa no desejo de estar sempre espojada em minha cama, apesar de Pikitita, que não gosta de dividir-me.
Chapeuzinho desapareceu alguns dias após a chegada de Mel, que entrou de casa adentro, uma noite, acompanhada de Zangado, melhor dizendo, escoltada; e resoluta foi logo subindo em meu colo e aqui está, ainda curtindo a fase em que não-acredita e teme faltar a comida. Come de tudo e bem. Tem Mel uma cauda magnífica e belos olhos azuis. Certamente, sem que eu me apercebesse, foi demais para Chapeuzinho.
Gatos são ciumentos, lembra-me Leila Míccolis…
Se humana fosse, Chapeuzinho seria um modelo. Ganharia as passarelas. É estilosa e atlética. Podia ser uma nadadora, uma tenista, uma acróbata. De pelo lustroso, tem manchas negras como asas e, encimando a cabeça, um gracioso chapeuzinho preto. Os olhos são de criança. Enormes, translúcidos, verde-dourados.
Sempre brincalhona, querendo se divertir, é muito alto-confiante. Gosta de, erguida sobre as patas dianteiras, ficar olhando-me, olhando-me. Como uma personagem de Colette. Ou deitar-se ao meu lado para acompanhar atentamente o seriado do momento.
Queria sempre estar conversando comigo ou fazendo-me companhia. Adorava deitar-se das maneiras mais espetaculosas deixando-me sem espaço em minha cama.
Às vezes, por sua insistência, me aborrecia. Tirava-a do quarto e – pior – da cama!
Quem souber de seu paradeiro, favor informar.