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Álvaro Dias, O Homem Que Sabe Javanês

Saiba tudo sobre a coroação do prefeito de Natal, Álvaro Dias, como o mais novo imortal da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

*Alexsandro Alves

[email protected],br

 

O Homem que Sabia Javanês é um conto de Lima Barreto publicado na Gazeta da tarde, Rio de Janeiro, em 28 de abril de 1911.

É uma daquelas delícias que desnuda a alma pródiga de nossa gente para a bufonaria e para a malícia.

É a história de um malandro que viaja pela Europa dando palestras, frequentando os mais notáveis intelectuais, até o presidente lhe pede desculpas por um atraso! Ele escreve livros!

E o mais importante: ele sabe javanês! Graças a isso, consegue se tornar cônsul do Brasil em Havana!

É o Brasil puro, escarrado e cuspido!

Ele sequer sabe mesmo javanês, é uma espécie tropical das Novas Roupas do Imperador! Mas ninguém a sua volta dá a mínima, isso é só um detalhe.

Quando ele fala em javanês, todos se admiram!

Nas ruas, o povo o aponta: lá vai o sujeito que sabe javanês! Nas livrarias, intelectuais conversam longamente com ele sobre a colocação pronominal da língua da Ilha de Sonda!

É um renomado senhor das letras!

Álvaro Dias é o nosso homem que sabe javanês.

Dia 21 de julho será a coroação dele na Academia Norte-rio-grandense de Letras! A Academia ficou nua com o prefeito. Ele lhe fala segredos íntimos em javanês e todos a sua volta acreditam piamente no que fala e escreve. É um literato, um homem das letras potiguares! Seu javanês é na medida da Academia.

Ah, como eu queria ouvir o javanês perfeito do prefeito! Aqueles sorrisos abertos de seus iguais imortais – todos cúmplices dessa falta de vergonha. Mas o prefeito sabe javanês e é isso o que importa.

Prefeito, como é “bom dia” em javanês? Pergunta Diógenes!

Dakrassianak! Responde o prefeito e complementa, para maior impacto: com o r bem pronunciado! DaKRRRAssianak!

Álvaro, como é “esta noite está agradável” em javanês? Suplica-lhe Isaura. O prefeito faz um ar de bonachão:

Çuka menjia!

Mas prefeito – Mary Land, entrando na onda – Eu nem ouvi direito, como é mesmo “bom dia” em javanês?

Álvaro, já animado, tasca um Tukanga dalu!

Não! Não! Não! – protestam todos – mas não era “dakrassianak”?

Mas Álvaro é bicho do mato!

Dakrassianak é quando você chega! Tukanga dalu é quando você vai!

Acim tá serto!